Jessé Souza

JESSE SOUZA 12446

Pacaraima se torna cenário de terra arrasada sem que ninguém dê atenção

Jessé Souza*

Apesar de todo o trabalho da Operação Acolhida, coordenada pelo Exército Brasileiro, com apoio de Organizações Não Governamentais (ONGs), que tem amenizado os efeitos da migração em massa de venezuelanos, o Município de Pacaraima segue sofrendo as duras consequências por ser a porta de entrada dos estrangeiros em fuga de seu país.

Localizada na fronteira com a Venezuela, a cidade brasileira naturalmente já era alvo das duras mazelas por estar numa área fronteiriça, resultado do tráfico internacional de drogas, de pessoas, de armas, de minério, atraindo não só cidadãos que vão em busca de vencer a vida pelo comércio, mas também dos que optam pelo ilícito.

A partir da crise instalada no país vizinho, o que já vinha ocorrendo de forma desorganizada saiu completamente de controle, pois Pacaraima é a primeira cidade a receber os estrangeiros que fogem da fome e da violência, além de criminosos de toda espécie que naturalmente se aproveitam do caos e de uma vigilância fronteiriça ineficaz.

O comércio baseado no contrabando e descaminho, principalmente de gasolina, foi se desmanchando de vez. O movimento em torno das atividades ilíticas era um dos esteios para a economia daquela cidade palpérrima, sem ter de onde tirar recursos para se manter estando cravada no meio da Terra Indígena São Marcos.

A Venezuela parou de ser a fonte de ganhar dinheiro para muitos brasileiros, assim como deixou de ser atrativo turístico dos brasileiros e de quem mantinha algum negócio por lá. E Pacaraima passou a ser depositário de venezuelanos em fuga, tendo no comércio de alimento para estrangeiros desesperados sua principal fonte de renda.

Mas Pacaraima já havia nascido para dar errado, pois a sede do município foi criada depois de homologação da terra indígena, em uma aberração jurídica que está sendo discutida no Supremo Tribual Federal (STF) e objeto do Projeto de Decreto Legislativa 32, para tentar retirar a sede de Pacaraima de dentro dos limites da terra indígena antes mesmo da decisão do STF.

Enquanto a Operação Acolhida faz a sua parte e a população se vira para tentar sobreviver do comércio de alimentos, não há como vencer os duríssimos reflexos do abandono por parte do poder público em geral. Pois, além de ter o prefeito cassado por corrupção eleitoral, o qual ainda é investigado por desvio de recursos federais destinados ao combate a pandemia, restam as mazelas que resultam da imigração desordenada.

Pacaraima tem se tornado uma favela, cercada por violência que aterroriza a população. Os estrangeiros ficam acampados em qualquer lugar, sem qualquer tipo de organização por parte do municípios e sem apoio do Governo Federal e do Governo do Estado. A cidade já abriga 15 mil pessoas, sendo a maior parte venezuelanos.

Com a fronteira aberta, apesar da pandemia, dezenas de venezuelanos chegam diariamente, montando acampamento em qualquer lugar, fazendo suas necessidades fisiológicas a céu aberto, dando um aspecto de uma terra arrasada. O cenário é desolador, mas ninguém dá atenção para o que está ocorrendo por lá, uma vez que a única organização que existe é o trabalho de acolhimento de venezuelanos.

Se antes da crise a cidade já não tinha estrutura, hoje se tornou calamidade pública, pois as invasões avançam sobre áreas onde estão os mananciais de água potável que abastecem a própria cidade, as comunidades indígenas em seu entorno e até aquelas longe dali. Como a cidade não dispõe de aterro sanitário, o lixo é jogado em local inapropriado ou em qualquer lugar pelas pessoas, afetando o meio ambiente e contaminando áreas próximas dos igarapés.

Pacaraima foi uma cidade criada sem qualquer critério e sem o mínimo de planejamento, assim como outras no interior de Roraima, unicamente para aumentar o curral eleitoral dos políticos da época. Outras que estão fora de terra indígena vivem na pobreza, com seus políticos praticando seus esquemas com emenda parlamentar, enquanto a população sobrevive na pobreza.

Se não houver um esforço concentrado para ajudar Pacaraima, não tardará para uma convulsão social. A situação já está insustentável, pois nem prefeito o município tem. O Governo Federal sabe da realidade, por meio do relatórios de agentes militares de inteligência, mas nada faz. Talvez alguém decida realizar algo quando uma tragédia – que já está anunciada – acontecer. E isso não tardará.

Anotem isso!

*Colunista