Como um grande experimento, Roraima não ficou de fora do extremismo do ‘tranca-rua’
Jessé Souza*
O fechamento de rodovias em alguns estados, nesta quarta-feira, acabou por mostrar a força das fakes news, capazes de incendiar uma nação. Bastaram três patéticos manifestantes gravarem um vídeo, anunciando um estado de sítio, para mostrar uma face sombria no que o país se transformou, em que mentiras são espalhadas imediatamente por compartilhamento via WhatsApp para todo o país.
Porém, este episódio serviu para mostrar outra realidade que estava na penumbra. Com o protesto de caminhoneiros que está penalizando o Estado de Roraima, já castigado pela velhas práticas da politicalha local, ficou bem claro que existe uma divisão dentro do âmago do bolsonarismo que se manifestou no dia 7 de setembro.
Há um núcleo que está apostando forte na convulsão social como fórmula para se chegar ao caos a fim de forçar uma rupta completa do que já está cambaleante, inclusive construindo uma trilha mais forte para os devaneios golpistas que vêm sendo semeados bem antes da eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Apesar de já viver no castigo, o Estado de Roraima foi escolhido para o fechamento de sua principal estrada, a BR-174, cordão umbilical do qual depende toda população roraimense, por esse núcleo achar que teria apoio incontestável, uma vez que temos um eleitorado bolsonarista expressivo, embora com uma população ínfima incapaz de decidir qualquer eleição presidencial.
Porém, Roraima é uma vitrine e um experimento das principais pautas do governo bolsonarista, como garimpo, demarcação de terras indígenas (marco temporal), crise venezuelana (que é vista pelo ângulo de soberania) e meio ambiente. Porém, acharam que seria mais fácil, uma vez que acreditavam encontrar uma população mais subserviente por ter maioria bolsonarista.
Mas a realidade de Roraima é bem distinta, pois a população já vive diariamente no limite das mazelas, acossada pelo alto custo de vida que não suporta um arrocho desse nível da política do “tranca-rua”, uma vez que já falta de tudo sem precisar de nova crise, como apagões de luz, de água e de internet a qualquer momento.
O povo roraimense é tão ressabiado com crise (qualquer sinal mínima de crise) que correu logo para os postos de gasolina, terminando de fazer a alegria dos empresários, já ricos diante da realidade que eles já impõem ao consumidor; bem como serve de prova incontestável de que o roraimense é muito suscetível a fake news, desde os tempos que os políticos locais pregravam a “internacionalização da Amazônia”.
Um parêntese: é de dominío público que a maioria dos postos de combustíveis pertence a políticos, uns diretamente, outros por meio de seus emissários que emprestam seus nomes; inclusive, uma operação policial recentemente apreendeu meio milhão de reais e uma grande quantidade de ouro dentro do escritório de um posto de gasolina que pertence a um político.
É aqui onde se divide o bolsonarismo do núcleo duro, que quer o caos como instrumento para o golpe definitivo, daqueles que (ingenuamente ou não) acreditam mesmo que este governo poderia ser a salvação. As repercussões negativas ocorreram em todo o país por meio da imprensa e das redes sociais.
Em Roraima, o fechamento da BR-174 teve esse papel de separar o que parecia homogênio, pois a população roraimense sabe que não pode pagar o preço por uma mobilização que está fora de seus anseios, que inclui principalmente amenizar a carestia, resolver as mazelas da pobreza crescente, acabar com a corrupção, gerar emprego e resolver a crise da imigração desordenada.
Bolsonarista surfador da onda e sabendo disso, o governador Antonio Denarium (sem partido) não demorou para pedir a liberação da estrada, pois ele sabe que esta culpa pode recair sobre suas costas, uma vez que seu governo é amigo do agronegócio e essa manifestação de fechar estrada pode parar em sua conta. É o chamado tiro que pode sair pela culatra.
Por parte do povo, é preciso entender que qualquer medida extrema jamais atingirá a elite e seus aliados lá de cima, como essa turma argumenta. Sempre é o povo que pagará a conta. Um fechamento de estrada pode até mexer um pouquinho no lucro deles, mas jamais o deixarão desabastecidos em qualquer lugar do país. Eles não fazem compra no Brasil. Eles têm um jatinho para ir almoçar em qualquer lugar onde haja farta comida e sol.
Outro ponto a ser comprrendidido é que a idolatria cega por um ídolo qualquer jamais irá resolver questões quando se trata de política. Muito pelo contrário. A História está repleta de exemplos quando uma população fica cega por um ídolo qualquer, tanto de esquerda quanto de direita. Para os religiosos, a Bíblia é bem clara quando fala de idolatria.
O Brasil precisa entrar em um consenso, o mais breve possível, pois não se conceberá qualquer intervenção aos moldes do que ocorreu no passado. Jamais! O estabilishmet está ciente disso. As notas emitidas pelas grande lideranças e federações empresariais mostram isso. A divisão está bem cristalina entre quem quer o caos como caminho único e aqueles que almejam somente uma mudança por meios legais.
Roraima, que deveria ter sido poupado desse extremismo covarde, corre o risco de pagar um preço bem mais amargo e caro pelo terrorismo de um grupo que optou por incitar uma ruptura completa a qualquer custo. Denarium tem sua parcela de culpa, e grande, por isso tem a maior responsabilidade para colocar as coisas em ordem o quanto antes; ou os seus dias estarão contados…
*Colunista