O ilusionismo político refletido nas condições de nossas estradas
Jessé Souza*
Já que os deputados estaduais querem explicações do Deparatmaneto Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) sobre a falta de manuntenção na esburacada BR-174, uma rodovia federal, então deveriam aproveitar o momento para agir também da mesma forma com a situação da RR-203, no Município do Amajari, Norde do Estado.
Justo que os deputados se preocupem com a BR-174, a principal rodovia do Estado, que movimenta economia local. Mas igualmente justo que haja atenção especial com a rodovia estadual RR-203, sobre a qual a resposabilidade de fiscalização compete aos deputados estaduais.
A RR-203 é responsável por dois grandes fluxos que geram renda para o Estado, o turismo na Serra do Tepequém e a produção de pescado, sabendo que no Amajari se encontra o maior produtor de tambaqui da região Norte.
Esta rodovia corta o Município do Amajari, interligando o trecho norte da BR-174 até a Serra do Tepequém, o único ponto turístico consolidado de Roraima. A obra de reforma da estrada começou no início do ano e, em menos de dois meses, o asfalto novinho estourou por completo na sede de Tepequém, na Vila do Paiva.
Depois de denúncia de moradores, a empresa se explicou e reposicionou as máquinas no local, anunciando que iria refazer a obra. Só que já se passou mais de um mês que o maquinário está estacionando no local, sem que a obra fosse reiniciada. Enquanto isso, a buraqueira toma conta do restante da estrada onde as obras não chegaram.
A empresa, com sede em Manaus (AM), faz lentamente uma operação tapa-buraco no trecho entre a Vila Três Corações e a Vila Brasil. Em outros trechos, onde foi feito um paliativo, a buraqueira só aumenta, provocando riscos e prejuízos a condutores, especialmente turistas que visitam Tepequém e criadores de peixe, além de outros produtores.
Os parlamentares poderiam aproveitar esse momento de preocupação com a BR-174 para também questionar a situação de inúmeras outras estradas e vicinais no Estado, por onde os pequenos produtores escoam seus produtos. Afinal, o inverno já deu sinais de que chegou ao fim, que sempre foi a desculpa para o governo não fazer nada.
Apesar das cobranças e denúncias existirem sob a responsabilidade do atual governo, a pesquisa mais recente Pesquisa CNT Rodovias, de 2017, aponta que dos R$ 2,20 bilhões desembolsados pelo Governo Federal em 13 anos, para intervenções em Roraima, nada foi aplicado em adequação de trechos rodoviários entre 2004 e 2016.
Significa que o que estamos passando com a situação da malha viária roraimense tem origem lá atrás, de governos que receberam recursos federais, mas não fizeram o que deveriam. A mesma pesquisa CNT apontou que, naquele período, 79,5% das rodovias roraimenses apresentavam problemas, com classificação regular, ruim ou péssimo.
Mas isso não impede que o governo atual seja cobrado, pois já estamos entrando para o terceiro ano de administração. Então, em vez de pedir explicações somente pela BR-174, os deputados têm a obrigação de fazer cobranças em relação às estradas estaduais. Aliás, os parlamentares já deveriam ter uma radiografia da situação de todas as estradas desde que esse governo assumiu.
No entanto, em Roraima, as coisas são feitas na base do truque político, do ilusionismo eleitoral, em que os governantes fingem que fazem e os parlamentares fingem que fiscalizam. E o reflexo disso está apontado na 21ª Pesquisa CNT Rodovias em relação às condições ruins de nossas estradas.
*Colunista