Igarapés sepultados em caixotes de concretos e a poluição que mata peixe no Mirante
Jessé Souza*
Um vídeo preocupante, que tem circulado na internet, traz imagens feitas por um pescador, dentro de uma canoa, mostrando peixes mortos às margens do Igarapé Caxangá, já perto da desembocadura no Rio Branco, mais precisamente aos pés do badalado Mirante do Parque Rio Branco, no Centro de Boa Vista.
A poluição daquele igarapé não é recente, é histórica, graças à incompetência da Companhia de Água e Esgoto de Roraima (Caer) em não resolver o problema do lançamento de esgoto in natura naquele local, seja por problema no serviço de esgotamento sanitário ou por esgotos clandestinos.
Mas também tem culpa histórica da Prefeitura, uma vez que nunca se preocupou seriamente em fiscalizar residências e empresas, localizadas ao longo do trajeto daquele igarapé, que fazem ligações clandestinas. A construção do Parque Rio Branco, com seu Mirante, acabou por consagrar esse desleixo criminoso.
Como Prefeitura e Caer ficam brigando por pura politicagem, sem haver acordos e entendimentos em favor da sociedade, o parque foi erguido em meio a um esgoto que vaza corriqueiramente e transforma a lagoa formada pelo aterro em uma lama fétida, bem ao lado da praça de brinquedo para as crianças, a qual transbordou e alagou várias casas ao redor, que ficam abaixo do nível do aterrro.
Como a obra do Parque do Rio Branco foi adotada como símbolo político da então prefeita Teresa Surita (MDE), que iria deixar o cargo no fim do ano passado, a construção foi realizada às pressas, com prioridade absoluta até mesmo no auge da pandemia, quando estavam morrendo muitas pessoas diariamente por coronavírus.
A não desapropriação de todas as casas, no bairro Calungá, foi apenas um dos graves erros. Essas casas no entorno do parque ficaram submersas numa lama verde, durante o inverno deste ano, resultado da água poluída que transbordou da lagoa do parque e do Igarapé Caxangá.
O esgoto lançado no Caxangá é que está matando os peixes por falta de oxigênio, às margens do Rio Branco. A Prefeitura jamais pode querer se esquivar de suas culpas, pois foi a administração passada, de Teresa Surita, que mais se enterrou igarapés poluídos.
Em vez de recuperar esses mananciais que cortam os bairros centrais da cidade, eles foram canalizados, ou seja, sepultados em caixotes de cimento. Sepultar leito de igarapés com concreto custa mais barato do que uma ação realmente de saneamento para recuperá-los.
A então prefeita Teresa foi a administradora municipal que mais assinou sentenças de mortes de igarapés, como Pricumã e o Caxangá, sob pretexto de obras de saneamento. O que se vê no Parque Rio Branco é a irresponsabilidade e o atestado de incompetência das autoridades em recuperar esses mananciais.
O que chama a atenção é que esses problemas são históricos e os órgãos fiscalizadores parecem fingir que não enxergam a realidade. Não há nem como alegar que não se sabe, pois a fedentina é constante ao passar pelas avenidas onde estão esses igarapés, além da água visivelmente poluída que se vê no Parque do Rio Branco.
Se tudo continuar como está, a beleza exaltada de Boa Vista será manchada pelos esgotos a céu aberto não só nas áreas centrais e nobres da Capital, mas também na periferia de Boa Vista, onde ainda é possível salvar esses igarapés. Mas, pelo que se vê, com políticos incompetentes e órgãos fiscalizadores apáticos, seremos a cidade com maior número do esgoto a céu aberto, assim como se tornou Manaus (AM).
*Colunista