Jessé Souza

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O que ficou oculto no discurso do presidente na Assembleia Geral da ONU

Jessé Souza*

O discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), na manhã de ontem, não condiz com a realidade que o Brasil vem enfrentando neste atual governo. Embora apresentando um comportamento mais brando, o conteúdo de sua fala refere-se a um país irreal, longe de ter proporcionado qualquer tranquilidade à comunidade internacional e aos investidores.

Na questão ambiental, o disparate entre discurso e prática é flagrante, pois o governo nunca apresentou qualquer política para o setor, agindo inversamente ao que está no discurso, quando promoveu um desmonte dos órgãos ambientais desde o início de sua administração.

Embora o discurso alegasse que havia a tarefa de desideologizar o meio ambiente das “ideias esquerdistas”, a prática do governo foi marcada por um discurso favorável ao garimpo, o que provocou uma frenética corrida da invasão de garimpeiros a terras indígenas.

Paralelo a isso, o então ministro do Meio Ambinente, Ricaro Salles, viu-se obrigado a deixar o cargo após ser investigado pela Polícia Federal sob acusação de favorecer uma grande madeireira que era alvo de uma operação que apreendeu um super carregamento ilegal de madeira extraída da Amazonônia.

Por dois anos e meio, ele foi responsável por colocar em prática as orientações de Bolsonaro para o meio ambiente desde o início do govero, conforme ele próprio disse no seu discurso de despedida. Só este caso já derruba a fala do presidente de que em seu governo não haveria caso de corrupção.

Na questão indígena, o governo enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei 490, que atenta contra as populações indígenas, as quais ele disse no seu discurso que “vivem livres”. Esse PL é uma sentença de morte porque impede demarcações, possibilita tomar terras indígenas e abrir essas terras para madeireiras e garimpeiros.

A manifestação de 7 de Setembro, apontada pelo presidente como um ato popular em favor de seu governo, foi transformada em uma mobilização orquestrada por religiosos, grandes produtores, caminhoneiros e bolsonaristas extremistas que atacaram as instituições e pediam vigoramente um golpe de Estado.

Não fosse a carta de recuo assinada por Bolsonaro, o país teria entrado em uma convulsão com consequências inesperadas, assustando ainda mais a comunidade internacional preocupada com os ataques à democracia brasileira e atemorizando os investidores que já haviam começado a se afugentar do país devido aos constantes rompantes do presidente alimentando um golpe a cada apiração pública.

Na questão da pandemia, além de falar inverdades, omitindo sua postura negacionista e antivacina, retardando o quanto pôde a vacinação em massa da população, defendeu abertamente o tratamento precoce para o coronavírus, mesmo que a ciência diga que não há outro tipo de prevenção a não ser a vacina. Ele mesmo é um mal exemplo a não ter se vacinado.

O país vive uma crise econômica que castiga os mais pobres, os quais estão passando duras necessidades país afora, recorrento a doação de ossada nos açougues, bem como penaliza a classe média, que vê seu poder aquisitivo ruir a cada ida ao supermercado ou quando vai fazer uma simples reforma em sua casa.

Não bastasse isso, o governo ainda enviou para o Congresso Nacional a Proposta de Emenda Parlamentar (PEC) 32. que desmonta o serviço público brasileiro e ameaça os servidores públicos em todos os níveis, que podem perdem direitos adquiridos, com corte nos rendimentos e até risco de demissão.

A PEC 32 acaba com a estabilidade dos servidores, bem como acaba com a possibilidade de novos concursos públicos, favorecendo a contratação de não concursados por meio da terceirização ou como temporários, os quais poderão entrar já precarizados devido ao arrocho contido na proposta do governo. É o desmanche completo do Brasil.

Esse é o cenário real do país, que está sucumbindo à falta de uma política de governo que enfrente os graves problemas que aflingem a população. E Roraima é um dos estados mais propícios a primeiro sucumbir a esse arrocho, pois vive da economia do contra cheque governamental e enfrenta a pior crise migratória de todos os tempos.

O Estado também sofre as duras consequências da falta de uma política ambiental, diante do avanço do garimpo ilegal, com sério risco da destruição dos principais mananciais de água potável, o que pode gerar uma grave crise hídrica em um futuro bem próximo, além da perda da biodiversidade e do risco de pagar a conta pelo genocídio anunciado dos povos Yanomami.

Essa é a realidade que ficou oculta no discurso do presidente na Assembleia da ONU. Se não houver um pacto pela reconstrução do Brasil, a tendência é estra crise se agravar, lançando milhares de pessoas na vala da pobreza, bem como o descontrole da inflação, realidade esta que o país bem conhece de tempos não muito distante das filas do desabastecimento na porta dos supermercados.

*Colunista