Jessé Souza

JESSE SOUZA 12640

As vaias que precisam ser ouvidas porque elas podem significar muito

Jessé Souza*

São vários os vídeos que circulam nos grupos de WhatsApp sobre a passagem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo Estado de Roraima, nesta quarta-feira. E o que chamou a atenção, em particular, foram vaias dirigidas aos políticos locais, em especial aos integrantes da bancada federal.

As últimas eleições foram marcadas por surpresas e, pelo que se desenrola na política local, o eleitor roraimense não está satisfeito com o que tem presenciado até aqui, não só pelo envolvimento de políticos locais com os escândalos, mas também porque Roraima não consegue superar os seus principais desafios.

Boa parte dos parlamentares no Congresso Nacional é da velha política que vem empurrando com a barriga, historicamente, os grandes problemas que travam o desenvolvimento do Estado, em destaque as questões energética e fundiária. A cada eleição as mesmas promessas são renovadas sem que nada avance.

A situação chegou a um ponto de que nada mais pode ser adiado, sob pena de Roraima se inviabilizar, porém, nossos representantes em Brasília acabaram ficando em evidência mais por aparecerem em escândalos do que lutando em favor do povo roraimense e dos interesses do Estado.

Foi assim com o caso de senadores que se envolveram no escândalo do dinheiro na cueca, em uma operação da Polícia Federal que investiga desvio de recursos para o combate à Covid-19 e, mais recentemente, dois deles tentando interceder por uma madeireira envolvida em um grande esquema internacional, caso este que acabou com a queda do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Na Câmara Federal, houve até um deputado calouro na política que, não satisfeito com o que conquistou, de forma até surpreendente, achou que já poderia ser prefeito de Boa Vista, mesmo sem nunca ter mostrado qualquer respaldo para isto. Fora outros que só aparecem porque precisam justificar seus gastos com publicidade.

Esse é o cenário do grau de desalento na política e que possivelmente estava sendo exposto ali, na visita de Bolsonaro, em momentos de vaia explícita e sonora ou no ensaio de vaias quando os nomes dos políticos eram citados durante a solenidade.

Nem o governador Antonio Denarium (PP) foi poupado por bolsonaristas que estavam mais interessados em ver e ouvir o presidente. Denarium precisa se reinventar se quiser partir para a reeleição, pois até agora não conseguiu se comunicar com o povo nem consegue se desfazer da imagem de que governa com prioridade para os grandes empresários.

O desalento é grande com a política, e o cenário que se encaminha não é nada animador levando em conta o que vem da fronteira com a Venezuela. Inclusive o tema imigração desordenada não foi priorizado por Bolsonaro, que por sua vez afirmou que só iria ver a situação dos venezuelanos em Pacaraima no mês de outubro.

O problema urge, pois as pesquisas mais recentes apontam que a pobreza extrema avançou na Venezuela, chegando a 76,6% da população dentro do cenário apocalíptico de 96,2% da população vivendo na pobreza. Significa que centenas de pessoas continuarão fugindo de lá diariamente atravessando a fronteira com o Brasil.

De nada adiantará comemorar os avanços anunciados até aqui se Roraima continuar sendo penalizado pela chegada em massa de venezuelanos, sem um apoio mais contundente do Governo Federal. A pobreza tem aumentado e, no seu encalço, o crescimento da violência urbana com a presença cada vez mais corriqueira de venezuelanos no tráfico de drogas e no crime organizado.

A bomba relógio está armada, enquanto nossos políticos fingem que não ouviram nenhuma vaia durante as solenidades com a presença de Bolsonaro.

*Colunista