Catandos os fatos políticos na lixeira e a necessidade de buscar novos horizontes
Jessé Souza*
A decisão mais acertada da ex-prefeita Teresa Surita (MDB) foi anunciar que não é mais consultora-geral do Município de Boa Vista, cargo que ela mesma criou, o qual assumiu logo depois de deixar a Prefeitura ao encerrar seu mandato como prefeita. Afinal, se ela vive em andanças pelo interior do Estado, não haveria compatibilidade para continuar no cargo.
O anúncio de Teresa ocorre mediante o desenrolar de outros fatos políticos, como o que envolve o vereador Wan Kenobby Costa (PV), alvo de uma ocorrência policial em que a própria esposa o acusa de tê-la agredido; mais uma vez mostrando que os fatos políticos se enroscam com a crônica policial, a exemplo da prisão do deputado estadual Jalser Renier (SD).
São esses fatos da crônica policial envolvendo políticos que acabam encobrindo o desenrolar de outros acontecimentos políticos, como a necessidade da atual legislatura da Câmara de Vereadores de Boa Vista mostrar realmente a que veio, e o passo definitivo da Assembleia Legislativa do Estado para que possa parar de estar fingindo que está tudo bem por lá. Não está nada bem na Câmara, muito menos na Assembleia.
Assim como não está bem no Governo do Estado, que recentemente criou a Secretaria Estadual Extraordinária de Promoção, Desenvolvimento e Inclusão Social (Seedis), criada exclusivamente para a primeira-dama Simone Denarium, a qual já contava com um sala especialmente para ela, no Palácio, sem que ela fosse servidora pública. Afinal, o governador Antonio Denarium (PP) se elegeu prometendo enxurgar a máquina administrativa.
A decisão de Teresa alivia um pouco a pressão que recebia justamente por ocupar um cargo que nem deveria existir. Mas isso não significa que agora está tudo bem. Ainda falta passar a limpo sua administração, cuja missão está nas mãos da CPI do Lixo. Mas parece que a Câmara precisará primeiro expiar seus demônios, bem como a Assembleia Legislativa será submetida a uma prova de fogo ao decidir sobre o caso do deputado Jalser Renier.
O governo de Denarium também precisa sair desse marasmo e das boas intenções que não levaram o Estado a nada, até aqui, além da necessidade de justificar a criação dessas novas três secretarias, uma delas para a primeira-dama. O momento exige ações mais austeras a fim de garantir ao povo uma segurança diante da crise nacional e dos monstros que ameaçam o nosso futuro.
Afinal, a realidade das ruas não condiz com a realidade que está nas propagandas institucionais. É só abrir as editorias de Polícia para perceber o avanço da criminalidade em várias frentes, que vão do tráfigo ao crime organizado, dos furtos a residências a assaltos que se tornaram mais corriqueiros, dos corpos desovados a imigrantes envolvidos em crimes.
Basta andar por qualquer semáforo em cruzamento movimentado para sentir a migração desordenada avançando na Capital, problema que se expande pelos municípios do interior. Na rotatória que divide a entrada dos municípios do interior no Sul do Estado, na confluência das rodovias 174, 210 e 432, a prostituição de venezuelanas ao ar livre é apenas parte do grande problema nas áreas urbanas dos municípios do interior.
Eis o grande espectro que ameaça Roraima. Mas nossos sentidos estão voltados para a crônica policial envolvendo nossos políticos, os quais são conduzidos aos cargos pelo voto, ou seja, por culpa nosso, do povo. A situação é tão devastadora que a saída da ex-prefeita de um cargo na Prefeitura é visto como algo positivo…
Temos que parar de catar no lixo político e olhar para o horizonte, tentar enxergar novos caminhos, sob pena de sermos cobrados severamente em um futuro bem próximo. O alerta vem sendo dado há um certo tempo. Ouça e entenda quem for capaz.
*Colunista