Que a Campanha da Fraternidade sirva para discutir a situação gravíssima do ensino público
Jessé Souza*
O lema da Campanha da Fraternidade para o ano de 2022 é oportuno para discutir a realidade da educação em tempos de pandemia: “Fala com sabedoria, ensina com amor”, que é baseado em passagem do livro Provérbios. No Estado de Roraima, nenhum dado sobre evasão e abandono.
Para deixar bem claro, é necessário esclarecer: abandono significa que o aluno deixa a escola num ano, mas retorna no ano seguinte; a evasão quer dizer que o estudante sai da escola e não volta mais para o sistema. Por aqui, ainda não se sabe qualquer dado com a finalidade de orientar as políticas adotadas para reverter qualquer quadro negativo.
Saber sobre esses dados é importante para que os gestores busquem soluções para reverter a fuga de alunos da rede pública, principalmente a adoção de um programa que possibilite a escola ir ao encontro dessas famílias para descobrir o motivo da ausência e buscar soluções.
Porém, tanto na rede estadual quanto na municipal, os gestores sequer se esforçaram para garantir que, enquanto as escolas estiveram fechadas, houvesse um trabalho de levantamento sobre a infraestrutura dessas unidades para providenciar obras de manutenção, reforma e/ou ampliação.
Na rede estadual, nesses dois anos de suspensão das aulas presenciais, as autoridades não conseguiram ao menos solucionar a questão do transporte escolar, prejudicando principalmente os alunos que moram na zona rural e nas comunidades indígenas, prejudicando o retorno presencial às aulas.
Afinal, o ensino remoto é um grande desafio a ser superado em várias frentes, como a falta de acesso à internet e de dispositivos móveis para crianças, jovens e adolescentes de baixa renda, fazendo com que esse público não tivesse como participar de todas as atividades escolares, motivo de desestímulo que acabo contribuindo para que muitos abandonassem os estudos.
Em muitos casos, não houve estratégia montada pela rede de ensino para que os alunos em ensino remoto tivessem acesso ao material impresso, estratégia esta que poderia amenizar o impacto por parte daquelas famílias sem internet e sem dispositivos para acessar as aulas remotas.
Os professores tiveram que se desdobrar para se reinventarem nessa nova modalidade de ensino e adotassem estratégias a fim de garantir qualidade mínima dos estudos, bem como evitar a ausência. Muitos profissionais estavam sozinhos nessa missão, sem ajuda do corpo pedagógico e principalmente dos pais.
Muitos pais e mães encontraram desculpas e motivos para não acompanhar seus filhos em casa, seja porque precisavam trabalhar fora de casa, ou porque também não souberam como agir diante da nova realidade a fim de cobrar seus filhos, ou porque se habituaram a jogar toda responsabilidade para os professores ou para a escola.
São todas essas questões que precisam ser discutidas imediatamente, pois os reflexos da pandemia são graves para um ensino público que já estava em crise e afetado pela precariedade da estrutura das escolas, salas de aulas superlotadas, desigualdades educacionais e principalmente desinteresse dos políticos e autoridades em favor de um ensino de qualidade.
Pelo que temos visto no cenário local, os políticos estão voltados para os seus próprios interesses e pela disputa política em ano eleitoral entre seus grupos. Então, que a Campanha da Fraternidade possa ser mais um instrumento para se discutir o momento delicado pelo qual passa a educação brasileira, especialmente o ensino público, cuja tendência é explicitar ainda mais a desigualdade com o retorno presencial das aulas.
*Colunista