Situação de precariedade agora se tornou desesperadora na BR-174
Jessé Souza*
Se a situação da BR-174 já era crítica, do Amazonas, ao Sul, a Roraima, ao Norte, agora se tornou dramática. Lamentavelmente, pouco pode ser feito neste período de chuva (a não ser promessas, desculpas esfarrapadas e reparos paliativos e pontuais), o que tem ajudado a piorar os atoleiros intransponíveis tanto para caminhões quanto para veículos pequenos.
Do lado amazonense, no trecho dentro da Terra Indígena Wamiri-Atroari a situação se tornou desesperadora, onde carretas e ônibus atolam e precisam ser puxados por outras carretas, provocando transtornos, prejuízos e muita angústia. Isso quando não quebram. De Rorainópolis até a fronteira com a Venezuela, a situação é semelhante com vários trechos se tornando intrafegáveis.
Em Rorainópolis, foi preciso até fazer um desvio na rodovia, local onde um caminhão tanque atolou ontem, interrompendo o tráfego por um período até o veículo ser retirado. Em Pacaraima, perto de chegar à fronteira, um atoleiro se formou há um certo tempo, onde ambulâncias e carretas foram filmadas tentando vencer a lama ao longo desse mês.
No geral, em toda sua extensão, boa parte da rodovia federal está em condições desesperadoras para todos: motoristas e passageiros de transporte coletivo, caminhoneiros autônomos e motoristas de empresas privadas que fazem transporte de Manaus a Boa Vista ou até a Venezuela, além de turistas que circulam entre Roraima e Amazonas em seus veículos.
De Boa Vista até o Km 100, no Município de Amajari, que dá acesso à Serra do Tepequém, o único ponto turístico consolidado de Roraima, são 11km de piche que já está se tornando buraqueira, devido à paralisação recente das obras, e mais 19Km de buraqueira que se forma ao longo da estradas após os seguidos serviços paliativos de tapa-buraco, enquanto o asfaltamento não chega.
Tudo isso ocorrendo na principal e única estrada que liga Roraima ao restante do país, responsável pelo abastecimento de todos os produtos de primeira necessidade da população, do combustível à alimentação, e por onde circulam as cargas que alavancam o PIB roraimense com a exportação para Venezuela. Não é à toa que ela é chamada de “cordão umbilical” de Roraima.
Até dois anos atrás, placas com nomes e fotos de parlamentares federais que anunciavam ter alocado verbas para reforma e manutenção da BR-174 podiam ser vistas às margens da rodovia. São esses mesmos políticos que não cumpriram com o seu trabalho para o qual são bem pagos, que é fiscalizar a boa aplicação dos recursos públicos. Hoje essas placas sumiram.
Tanto do lado amazonense quanto do lado roraimense, os fatos mostram um completo desinteresse pela manutenção da estrada ao longo de pelo menos os últimos três anos. Em alguns casos, até mesmo as autoridades mostram que não sabem o que está ocorrendo, pois negam piamente as precárias condições da estrada em entrevistas.
Quem costuma trafegar pela BR-174 sabe que, em 2018, no trecho dentro da terra indígena o asfalto estava em ótimas condições – um “tapete”, como costumam divulgar os políticos. Em 2019, começaram a surgir os primeiros buracos, os quais foram se ampliando até chegar as vergonhosas situações atuais, expondo o desprezo por parte dos governantes, da bancada federal e dos órgãos de controle.
Quando querem aparecer para a mídia ou para atender a interesses maiores, até mesmo os deputados estaduais formam comitivas para averiguar as condições das estradas, a exemplo do que fizeram, no passado, quando viajaram para ver a situação da BR-319, entre o Amazonas e Rondônia, rodovia esta que tem mais apelo de algumas autoridades locais do que mesmo a BR-174.
Por parte do Governo Federal, não deverá vir mais nada, pois os votos de Roraima são insignificantes diante do que vem sendo feito neste ano eleitoral: o presidente Bolsonaro acabou com o teto de gastos, mostrando que não está preocupado com os gastos públicos, aprovando calote em precatórios, e tem distribuindo recursos à vontade por meio do orçamento secreto no valor de R$ 16 bilhões.
O contribuinte deverá ficar mesmo apenas com os seguidos vídeos que começaram a ser compartilhados nos grupos de WhatsApp e redes sociais, esta semana, feitos por caminhoneiros mostrando o desespero deles nos atoleiros da BR-174. Afinal, nada avançou desde 2019 do lado amazonense e roraimense, apesar dos recursos destinados para a estrada -R$75 milhões somente para o trecho norte em Roraima, nos anos de 2018 e 2019.
*Colunista