Jessé Souza

Jesse Souza 13752

A falta de dados e a realidade que se apresenta no dia a dia do cidadão

Jessé Souza*

Não há como o cidadão medir ou ter noção sobre a redução ou não da violência urbana sem que haja uma divulgação periódica e confiável de estatísticas que possam analisar e comprovar  os fatos. Enquanto isso não for  uma prática, de proporcionar dados e números à opinião pública, tudo não passa de achismo, engabelação política ou mesmo propaganda negativa ou positiva, dependendo do ângulo da divulgação.

O que o contribuinte pode comentar é sobre o que ele passa ou observa na sua vizinhança, no seu bairro ou a partir do contato com seus círculos familiares e de amizade; ou, ainda, pelas divulgações que repercutem nas redes sociais e na imprensa, a qual já não consegue mais acompanhar porque agora se atém a fatos mais importantes uma vez que se tornou impossível acompanhar os acontecimentos policiais corriqueiros.

Por outra lado, ainda que hajam estatísticas, o fato é que muitas pessoas não têm mais coragem e confiança em registrar ocorrências policiais sobre furtos e outros delitos, pois sabem que esses casos irão morrer em alguma gaveta do desinteresse da segurança pública. E isso não é de hoje. O cidadão que já se envolveu em ocorrências policiais sabe do estresse e do descaso com boa parte desse tipo de ocorrência. 

Ainda existem situações piores. Na Região Norte do Estado, por exemplo, ainda que existam estatísticas sobre a violência, esses dados serão sempre irreais ou imprecisos, pois há um sério problema na estrutura da segurança pública. O Município do Amajari até hoje não tem uma Delegacia da Polícia Civil, o que obriga a população dessa região a recorrer à Delegacia de Pacaraima, há cerca de 100Km a partir da Vila Três Corações.

A consequência desse desleixo com a segurança no Amajari é que o cidadão acaba sendo obrigado a desistir de registrar qualquer tipo de ocorrência porque é inconcebível que uma pessoa se desloque para a fronteira com Pacaraima para registrar um furto ou qualquer desavença pessoal se ela morar na Vila do Trairão ou Vila Bom Jesus, por exemplo, porque terá que se deslocar 200Km só de ida para Pacaraima.

Essa é a mesma realidade da Serra de Tepequém, local turístico de grande fluxo de turistas que vêm principalmente de Manaus (AM), onde a Polícia Militar acaba tendo que agir mais como um “ente conciliador” porque precisa evitar ao máximo se deslocar para a Delegacia de Pacaraima. A vantagem disso é que a PM precisa colocar em prática a Polícia Comunitária, a qual não prosperou na Capital depois de muito blá-blá-blá governamental.

É inconcebível que o Amajari não tenha uma Delegacia da Polícia Civil, dada a importância dessa localidade, por ser um corredor do grande fluxo de exportação para a Venezuela, de exportação do maior produtor de pescado do Norte e também por abrigar o único ponto turístico consolidado do Estado, que chega a receber até 5 mil pessoas em feriados prolongados.

Portanto, com base na realidade que se apresenta, o Estado de Roraima não tem dados reais sobre a situação da segurança pública (ou pelo menos eles não são divulgados), sendo impossível medir a queda ou aumento de casos a respeito da violência urbana. Mas as pessoas que vivenciam os acontecimentos das ruas, ou das localidades mais distantes dos centros urbanos, sabem qual é a verdade dos fatos.

E esses fatos não são nada animadores, porque há uma guerrilha em curso a qual obriga as famílias a se trancarem em casa cedo da noite, pois o crime organizado se movimenta e se fortalece com o crescimento da imigração desordenada. E são muitos os jovens cooptados para este submundo, tanto estrangeiros quanto brasileiros. Isso é aterrador.

*Colunista