Agora é oficial: Roraima se tornou um imenso apagão institucional em todos os sentidos
Jessé Souza*
Um dia depois do artigo que tratava do apagão geral em que se tornou o Estado de Roraima, a população voltou a enfrentar novamente um severo apagão de internet, que desta vez provocou prejuízos em todos os setores que dependem da conexão para realizar seus trabalhos e tarefas diárias. O comércio, por exemplo, ficou impedido de vender porque o cliente não tinha como pagar com cartão, provocando prejuízos incalculáveis.
Como de praxe, houve uma nota da empresa informando sobre rompimento da fibra óptica, seguida do rotineiro apagão institucional de nossas autoridades, dos órgãos fiscalizadores e dos órgãos de defesa do consumidor. E, não por coincidência, uma das notícias de maior repercussão na imprensa foram as declarações de um parlamentar que defende o garimpo ilegal dentro de terras indígenas criticando a atuação da comissão que virá ao Estado verificar a situação dos Yanomami.
Enquanto isso, temos uma população que parece ter se habituado aos apagões, especialmente ao institucional, pois aceita pacificamente o silêncio de quem deveria agir e, de quebra, engole outros apagões: o da energia elétrica, da água encanada e de outros serviços essenciais de péssima qualidade. O único movimento que tem funcionado é o que defende o garimpo ilegal, mesmo com os seguidos crimes praticados a partir dessa atividade ilegal em terras indígenas.
Também no dia do apagão geral da internet, o assunto de maior repercussão foi o duplo homicídio no bairro 13 de Setembro, nas proximidades de um abrigo de venezuelanos, reafirmando que o crime é uma das poucas atividades realmente organizadas no Estado. A crueldade do crime, com os dois corpos degolados, também não comove mais ninguém, especialmente nossas autoridades, que deixaram de ser cobradas e, por isso mesmo, fingem que está tudo dentro da normalidade com seus institucionais na TV que mostram um paraíso na terra.
O anormal foi normalizado no Estado. E o apagão de internet é apenas uma dessas aberrações que são tratadas como normais, apesar dos sérios transtornos a toda população e prejuízos incalculáveis ao comércio e outras atividades que dependem de uma boa conexão de internet para suas atividades diárias. Nessa esteira, tudo foi banalizado: os assassinatos com requintes de crueldade, o garimpo ilegal, os ataques ao Yanomami, o abandono da BR-174, os apagões de energia e as constantes faltas de água.
Definitivamente, o Estado de Roraima se tornou um grande apagão coletivo, com históricos descasos por parte das autoridades, que contam com um amnésia coletiva a cada eleição, além de mentiras institucionalizadas que são aceitas da mesmo forma que a população baixa a cabeça para as desgraças que foram normalizadas; e a questão da internet é apenas uma delas, talvez a menor delas se comparada à normalização do que o garimpo ilegal provoca nas terras indígenas e dos corpos desovados com requintes de crueldade.
*Colunista