Parque Anauá: de história do passado para uma triste realidade atual
Jessé Souza*
O Parque Anauá é considerado o maior parque urbano da região Norte, com área de 106 hectares ao longo de uma área privilegiada de Boa Vista. Muito antes de se tornar o que é, atualmente, era conhecida como Fazenda dos Americanos (por ter pertencido a um casal de americanos em 1947) e que já atraía a população boa-vistense para o lazer nos lagos perenes, dos quais restou apenas um, que é chamado até hoje de Lago dos Americanos.
Embora as primeiras estruturas do parque tenham começado a ser constituídas no governo de Fernando Ramos Pereira, que sucedeu Hélio Campos até 1979, com instalação de uma quadra de tênis, uma quadra de vôlei e duas pistas para aeromodelos, a construção definitiva ocorreu de 1981 a 1983 na gestão do governo do já falecido brigadeiro Ottomar de Sousa Pinto, que governou de 1979 a 1983.
É desde lá que os seguidos governos deixaram que o Parque Anauá não avançasse como um complexo multifuncional para o qual foi idealizado, com estrutura necessária para atividades esportivas e culturais, ponto de lazer e também um espaço representativo e de preservação da paisagem regional, inclusive com o horto municipal e o Museu Integrado de Roraima (Mirr).
Atualmente, quem anda por lá fatalmente irá se deparar com imensa barreira feita de placas de metal que servem de tapume que cerca obras inacabadas. A antiga placa indica a contratação de empresa pelo valor aproximado de R$5,7 milhões para realizar uma segunda etapa de obras no parque, cujos serviços iniciaram no dia 19/11/2021, com término previsto para 18/05/2022, porém nunca concluídos. Essas obras foram motivos de várias propagandas feitas por um deputado federal.
Recentemente, novas placas foram instaladas ao lado da antiga informando a contratação de uma nova empresa, com sede em São Paulo, para realizar a obra que foi abandonada pela primeira empresa, com prazo de 180 dias para entrega. O tapume, porém, não consegue esconder problemas antigos, como a sede do Museu preste a desabar, o parque aquático que virou sucata, o kartódromo com aspecto de abandono, o Ginásio Totozão que está interditado e até pouco tempo era ocupado por migrantes, além da Praça Renato Haddad (aquela das fontes luminosas) e a Piscina Olímpica, que foram abandonadas por seguidos governos.
Mas o abandono não é de hoje. No parque já era para estar em pleno funcionamento uma praça com um enorme relógio solar de granito, rodeado por uma pista para cooper, quiosques e quadras esportivas. As obras estavam orçadas em R$ 23,5 milhões (R$ 14,5 milhões para a primeira etapa e R$ 9 milhões para a segunda). Só que tudo isso está abandonado porque a obra não foi concluída. A obra foi empenhada em 2015, mas apenas no final de 2016 o governo decidiu iniciar os trabalhos.
A primeira etapa do complexo deveria ter sido entregue em 2018, mas isso não ocorreu e, atualmente, a parede de metal em forma de tapume esconde as obras inacabadas, porém serve para revelar um imenso espaço desperdiçado, com a estrutura se deteriorando por todo lado, sem contar com a descaracterização do projeto original, o que permitiu a destruição de prédios engolidos pelo desprezo e falta de manutenção básica, a exemplo do Mirr, fazendo de Roraima o único Estado do país que não dispõe de um museu; bem como intervenções que não respeitaram a história e a arquitetura original.
Esse é o retrato resumido do Parque Anauá, porque há muito mais problemas que precisam ser destacados, como uma ação para salvar o Lago dos Americanos, que é (ou era) nascente do falecido Igarapé Mirandinha, o qual virou um caixote de cimento. O Anauá é o exemplo de como um importante bem público para o lazer, esporte, arte, cultura e preservação de nosso bioma do lavrado é desprezado por todos. Ao menos deveria haver uma fiscalização sobre as obras abandonadas. Já seria um certo alento.
*Colunista