Mais uma cena de tragédia anunciada diante das condições de nossas estradas
Jessé Souza*
O capotamento de um táxi intermunicipal no trecho norte da BR-174, na manhã de ontem, deixou três passageiros feridos e um morto. E os indícios apontam que o acidente ocorreu devido às crateras na pista. Trata-se de um caso semelhante ao que ocorreu com uma funcionária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no trecho norte da BR-174, que morreu na quinta-feira passada quando o carro que ela dirigia bateu em uma cratera e capotou.
Conforme o artigo de ontem, as condições dessa importante rodovia são prenúncios de graves acidentes que podem ocorrer a qualquer momento, desta vez não como simples fatalidade ou tão somente imprudência do condutor. Como tragédia anunciada, este novo caso apenas reforça a situação perigosa da principal estrada de Roraima, em precárias condições muito antes das chuvas rigorosas.
Esta nova tragédia acaba servindo de motivo para chamar a atenção, outra vez, a respeito da principal estrada do Município do Amajari, a RR-203, que dá acesso ao único ponto turístico consolidado de Roraima, a Serra do Tepequém, uma vez que todos os turistas obrigatoriamente precisam passar pelo trecho norte da BR-174, inclusive os que vêm de Manaus (AM) de carro também enfrentam a situação do trecho sul da BR-174.
As obras de recuperação da RR-203 estão rodeadas de polêmica e denúncias. Neste domingo à noite, a empresa retomou a obra visando refazer o asfalto da rua principal da Vila Tepequém, que “estourou” dois meses depois de o asfaltamento ter sido concluído, no ano passado, fato que foi seguido de insistentes reclamações de moradores e empreendedores do turismo.
Vale ressaltar que a empresa deu início aos serviços para refazer o asfaltamento daquela via principal de Tepequém quase um ano depois de ter “estourado”. Porém, os trabalhos haviam sido suspensos, no mês passado, logo após um policial civil que estava em uma moto de alta cilindrada ter morrido ao colidir contra um monte de brita que estava na pista.
Muito antes disso, as obras haviam sido paralisadas no fim do ano passado, quando a empresa foi flagrada por um vereador local realizando obra de terraplanagem da estrada de acesso ao Município de Uiramutã no mesmo momento em que a recuperação da RR-203 estava paralisada, a qual apresentava não apenas trechos inacabados, mas também com uma qualidade visivelmente ruim do asfalto onde houve recapeamento.
A empresa havia deixado 19Km da RR-203 na total buraqueira, entre a Vila Brasil e a entrada para a Vila Bom Jesus, trecho que foi tapado com barro. A recuperação desse trecho foi retomada, após as crateras terem se ampliado com o tráfego de carros por causa do fluxo do turismo em Tepequém, bem como da grande movimentação de caminhões, uma vez que a região é a maior produtora de pescado da região Norte e abriga grandes fazendas de gado.
Além disso, o asfalto começou a “estourar” em trechos onde houve recapeamento total, a exemplo do que ocorre na chamada “subida da serra”, em uma situação semelhante ao que ocorreu com o asfalto novinho da rua principal de Tepequém. Em locais onde houve somente trabalho de manutenção com serviço de tapa-buraco, novas crateras começaram a se abrir, principalmente agora com o início do inverno.
A demora nas frentes de trabalho de tapa-buraco representa não apenas sérios riscos de acidentes, a exemplo do que foi registrado na BR-174 nesses últimos dias, como também pode onerar ainda mais os cofres públicos com uma obra que poderá consumir muito mais recursos do que o apontado até o final do contrato.
Assim como a BR-174 é imprescindível para a economia do Estado, a RR-203 é importante para a economia do Amajari, além de a Serra do Tepequém ser uma vitrine no Estado, inclusive por onde circulam turistas que vêm de outros estados conhecer as cachoeiras e apreciar o clima serrando daquele ponto turístico que fica a 210Km da Capital, cujo acesso começa pelo trecho norte da BR-174.
A qualidade da obra continua uma grande preocupação de todos que utilizam aquela rodovia estadual. Trechos do asfalto que “estouraram” já começaram a receber reparos, especialmente na subida da serra, enquanto outros trechos têm os buracos tapados com barro à espera da chegada do asfalto. Em outros, recentemente, a empresa começou a pintar a sinalização horizontal na pista.
Em resumo, as obras foram retomadas, mas os questionamentos continuam pelos usuários e a população devido à lentidão e a qualidade da obra, uma vez que trechos do novo asfalto começaram a “estourar” e crateras se formaram onde já houve serviço de tapa-buraco, além daqueles que recebem paliativos com buracos tapados com barro que se “derrete” à primeira chuva.
Conforme esta coluna vem frisando, a qualidade das estradas e vicinais é condição básica para o desenvolvimento de uma região e do Estado de uma forma geral, seja garantindo bem-estar de quem trafega quanto na garantia de boas condições para o trânsito de pessoas e escoamento da produção agropecuária.
Por isso a recuperação de rodovias e vicinais precisa ser tratada como serviço essencial e, portanto, com atenção constante por parte das autoridades em todos os níveis de governo. Não se pode continuar lançando a culpa apenas no fator climático. Nem perpetuar esse grande problema que causa transtornos à população, riscos à vida de condutores e passageiros, bem como prejuízos econômicos ao Estado e financeiro a donos de veículos que trafegam por estradas e vicinais.
*Colunista