Jessé Souza

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O tormento dos apagões e os dados colocados à mesa que exigem explicações

Jessé Souza*

Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informam que a distribuidora Boa Vista Energia, que abastece a Capital e algumas localidades mais próximas, registrou uma Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC) de 2,21 apagões em março deste ano. Cada unidade consumidora sofreu mais de dois apagões no mês, considerando interrupções iguais ou superiores a três minutos, conforme a estatística da agência reguladora.

Situação pior enfrenta quem mora nos municípios mais distantes da Capital, os quais são abastecidos por geradores independentes, a exemplo do Amajari, Norte do Estado, onde os apagões são constantes a ponto de ficar o dia inteiro sem energia. Ou no Sul do Estado, onde também pode faltar energia mais vezes tanto diariamente como semanalmente. Em Caroebe, a Sudeste, foram 6,12 apagões por unidade consumidora no mês de março. No vizinho São Luiz do Anauá, foram 5,74 interrupções de energia.

Os dados são públicos, mas as autoridades, em especial os órgãos fiscalizadores, nunca deram qualquer esclarecimento sobre esses constantes apagões, os quais passaram a fazer parte da vida do roraimense desde que Roraima deixou de ser abastecido pela Venezuela, a partir de 2019, quando entrou em operação a geração de energia de cinco termelétricas.

A partir daí, os apagões passaram a ser o tormento e o pesadelo de todos os consumidores do Estado. Mas não era para ser esta a realidade de quem paga uma das energias mais caras do país, pois, muito antes de a energia Venezuela de Gury ser suspensa, o parque térmico instalado tinha condições de suprir a demanda de energia sem blecaute geral, caso Gury falhasse.

Logo no começo da geração de 100% de energia termelétricas, técnicos já afirmavam que estavam ocorrendo falhas no processo de gestão e também na gestão da informação, problemas que seriam encobertos pela falta de transparência. Afirmaram inclusive que a gestão técnica seria pior ainda porque não havia manutenção adequada, o que provocava a quebra de geradores.

Ex-técnicos das empresas afirmavam que, naquele momento, não havia especialistas no sistema elétrico, com completa ausência de engenheiros elétricos, fazendo com que o sistema passasse a ser gerido por especialistas em engenharia civil nas empresas. Foram tempos difíceis aqueles com o fim de Gury. Mas será que esses problemas apontados à época deixaram de existir, especialmente no interior do Estado, onde as populações comem o pão que o diabo amassou até hoje?

Com os constantes transtornos e prejuízos financeiros por causa dos apagões, o consumidor roraimense continuam sem respostas para os seus questionamentos desde aqueles tempos mais turbulentos, assim como não houve naquela época das denúncias feitas por ex-funcionários das concessionárias, as quais foram solenemente ignoradas, assim como os problemas seguem até hoje.

Desde aquela época, uma das alternativas apontadas pelos especialistas para melhorar o fornecimento de energia para os 652.713 moradores roraimenses de Roraima era e continua sendo a conclusão do Linhão de Tucuruí do Pará até Roraima, cujo trecho entre Manaus (AM) até Boa Vista ficou impossibilitado devido ao imbróglio criado pelas próprias autoridades, que insistiram em não atender aos pedidos de compensação aos impactos ambientais dentro da Terra Indígena Waimiri-Atroari.

Desta forma, Tucuruí é uma alternativa antiga para que o Estado faça parte do Sistema Interligado Nacional (SIN), e que se tornou também uma promessa política para ganhar votos a cada pleito eleitoral. No meio disso, sempre existiram forças ocultas que nunca quiseram o desligamento das usinas termelétricas movidas a diesel, combustível que chegou ao mesmo preço do litro da gasolina, recentemente.

 

Os dados do Ministério de Minas e Energia apontam que o custo total para a implantação do Linhão de Tucuruí chegará a cerca de R$ 2,3 bilhões. Para se ter uma ideia, o custo da Conta de Consumo de Combustível apenas para compensar os custos de diesel e gás das termelétricas de Roraima chega à cifra de R$ 2 bilhões por ano.

Os dados e os números estão à mesa. É inadmissível que o Estado seja penalizado por constantes apagões, com maior força nos municípios do interior, sem que hajam respostas sobre o que está acontecendo. Mais ainda, é necessário que as autoridades coloquem um fim definitivo nesse imbróglio de Tucuruí, o mais breve possível.

*Colunista