Uma data que passou em branco em meio ao desprezo pela política de turismo
Jessé Souza*
O Dia do Turista foi celebrado na segunda-feira, 13, de forma quase despercebida em Roraima, a não ser algumas notas ou cards publicados nas redes sociais. E a data passou sem qualquer festa na Serra do Tepequém, localizada no Município de Amajari, Norte de Roraima, que chega a receber de três a cinco mil turistas em feriados prolongados.
Embora seja o único ponto turístico realmente consolidado de Roraima, a região é alvo do desprezo governamental em todos os níveis de governo, sem exceção. É possível fazer uma lista do que realmente o local precisa para fomentar o turismo e proporcionar ao turista o mínimo de estrutura para que ele possa desfrutar de todas as belezas naturais.
A começar pela falta de uma empresa de telefonia celular, que deixa turistas e moradores reféns de empresas que escalpelam o moradores e empreendedores cobrando preços altos por um serviço ruim, via rádio, de baixa velocidade e suscetível a interrupções ao primeiro raio antes de uma chuva qualquer de verão; imagine no inverno.
Para mostrar o desinteresse das autoridades locais, em outubro de 2021, o governador do Acre, Gladson Cameli, acertou a expansão da telefonia móvel para todas as comunidades distantes daquele Estado, tratando do assunto com representantes de uma das empresas de telefonia. Simples assim. Bastou interesse político e um pouco de boa vontade para conversar via conferência, sem precisar sair do seu gabinete.
Na lista de problemas também está a questão fundiária, onde moradores e empreendedores vivem a desesperança por não terem qualquer segurança para investir no seu negócio por falta do documento de suas propriedades. E isso também fomenta invasões e especulações imobiliárias de toda ordem, favorecendo o surgimento de favelas, construções em áreas não permitidas e um desordenamento que prejudica o turismo, e por conseguinte causando transtornos aos turistas e ao futuro de Tepequém.
A rede de abastecimento de água também é insuficiente para atender as não mais que 200 famílias que vivem na Vila Tepequém, Vila Cabo Sobral e Vicinal Igarapé Preto, onde a falta de água é recorrente, cujo problema se torna um transtorno aos moradores e aos visitantes quando há uma grande movimentação de turistas em fins de semana e feriados prolongados. Pedidos de ampliação de rede e instalação de um reservatório são solenemente ignorados.
Se a rede de abastecimento de água potável é um problema, a falta de esgotamento sanitário para atender não mais que uma rua principal e seis ruelas secundárias se torna não apenas uma preocupação, mas um fator sério na questão ambiental, pois as fossas residenciais podem se tornar foco de contaminação de um lençol freático muito próximo da superfície do solo, comprometendo o armazenamento das águas que vão parar nos igarapés, a principal riqueza de Tepequém.
A questão das estradas de acesso aos pontos turísticos se apresenta como outro problema antigo, sem um serviço de manutenção permanente, cujo serviço depende do ato de implorar por parte de moradores, empreendedores e de vereadores que muitas vezes acabam fazendo papeis que são obrigação dos executivos, como pegar na enxada junto com moradores e usar seus carros para tapar buracos das estradas ou fazer desvios em tempos de atoleiros.
Enfim, a lista de problemas e necessidades são intermináveis, que dependem de uma política de turismo efetiva e de ações governamentais sérias para investir realmente no turismo, no bem-estar das comunidades envolvidas e no acolhimento dos turistas, os quais são os únicos responsáveis por gerar emprego e renda naquele ponto turístico importante para o Estado, isolado dos centros urbanos, distante a 210Km da Capital.
Mas, conforme a lista de problemas acima relatados, o turismo é ignorado pelas autoridades e esquecido pelas políticas governamentais, a não ser paliativos e promessas repetidas a cada governo que chega. É por isso que não houve qualquer motivo para se celebrar o Dia do Turista, o qual passou praticamente em branco no local que mais recebe turistas ao longo do ano em Roraima. Infelizmente, essa é a realidade.
*Colunista