Sinais de alento de um novo tempo na crise migratória no Estado de Roraima
Jessé Souza*
A falta de emprego, o alto custo de vida e a grande carga de xenofobia em Roraima, somados a um cenário econômico de recuperação na economia venezuelana, têm dado sinais de uma redução no fluxo migratório partindo por terra da Venezuela para o Estado de Roraima. Muitos imigrantes já começaram a fazer planos de retornar para o seu país.
Notícias da imprensa brasileira e internacional mostram que o cenário tem mudado desde que a grave crise econômica na Venezuela, que a partir de 2013 obrigou uma fuga em massa de venezuelanos para outros países, com o Estado de Roraima recebendo um grande parcela dos imigrantes que fugiram da fome e do desemprego.
Conforme matéria da BBC News, a economia venezuelana mostra sinais de recuperação, com a dolarização da economia sendo responsável por diminuir a escassez de alimentos e aliviado a inflação. “Em março, o país sul-americano registrou uma taxa mensal de inflação de 1,4%, a mais baixa desde setembro de 2012. Em abril, subiu para 4,4%, mesmo assim bem abaixo dos 24,6% registrados em abril de 2021”, diz a matéria.
Diz ainda que produção de petróleo, que é a principal fonte de riqueza do país, começou a aumentar no final do ano passado, depois de alcançar um mínimo histórico em 2020, quando caiu para 434 mil barris por dia. “Em dezembro do ano passado, a Venezuela produziu 718 mil barris por dia e, desde então, a produção se mantém pouco abaixo dos 700 mil barris”, informa.
Conforme os especialistas, embora esta quantidade ainda seja muito pequena para um país que produzia mais de 3 milhões de barris por dia em 1998, e que tem as maiores reservas de petróleo bruto do mundo, ela quase duplicou em comparação com a queda histórica de 2020, o que é um grande alento para a economia do país vizinho.
Os bons ventos desse cenário de alento pode ser sentido no mercado de trabalho, quando há dois anos uma empregada doméstica ganhava entre US$10 e US$15 mensais, valor este irrisório para uma família sobreviver em uma Venezuela devastada, mas agora essa profissional já pode ganhar entre US$ 200 e US$ 250 por mês.
Por estarem mais perto do seu país, quem vive em Roraima pensa agora em retornar, em vez de fazer planos para trazer o restante da família, como muitos têm feito nos últimos anos assim que conseguem se estabilizar no Estado, uma vez que o preço dos alimentos disparou, tornando mais difícil viver de aluguel ganhando salário mínimo trabalhando no comércio local.
Com a economia na Venezuela mostrando recuperação aos que não conseguiram deixar o país ou ainda pensam em buscar novas oportunidades nos outros países, isso significa que a migração em massa possa dar uma freada daqui para frente, em Roraima, permitindo maior controle das políticas públicas que precisam pensar obrigatoriamente nos imigrantes.
Quem conhece a realidade da periferia de Boa Vista e nos municípios do interior sabe que, se houvesse uma política de repatriação, da mesma forma que há uma política de interiorização dos imigrantes para outros estados, muitos não hesitariam em voltar ao seu país. Isso já vem ocorrendo em algumas localidades onde venezuelanos têm pedido ajuda para voltar ao seu país.
Então, as autoridades estaduais precisam estar atentas a essa nova realidade que vem sendo construída, especialmente porque estamos às vésperas de uma campanha eleitoral, cujos futuros gestores precisam pensar na imigração e em políticas para amenizar os impactos. Embora muitos possam voltar ao seu país, uma grande parcela ficará completamente integrada à nossa sociedade, com idas e vindas que manterão Roraima como um único Estado bilíngue da Região Norte.
*Colunista