Jessé Souza

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Enquanto as viaturas policiais passam nas avenidas principais…

Jessé Souza*

Quem frequenta o complexo poliesportivo Ayrton Senna, que se estende ao longo da Avenida Ene Garcez, com certeza verá, especialmente à noite, viaturas policiais desfilando por lá com frequência, da Polícia Militar à Força de Segurança Nacional. É um desfile que acaba promovendo uma sensação de segurança para uma área central bastante frequentada e cheia de quiosques.

Porém, o que sobra numa área privilegiada acaba faltando em áreas importantes, inclusive no mais antigo centro comercial do Estado, na Avenida Jaime Brasil e adjacências, a exemplo do Centro Comercial Caxambú. Por lá até que passa alguma viatura, mas não existem policiais fazendo rondas a pé, o que acaba incentivando a instalação da vagabundagem e de golpistas vendendo celulares sem documento ou aplicando golpes em quem passa por lá.

Os donos e funcionários de quiosques  trabalham inseguros ali, especialmente porque já houve assassinato no início do expediente comercial, às 8 horas, na entrada do Caxambú, tendo como vítima um desses golpistas que vendem celulares furtados ou roubados, os quais ficam por lá sem ser incomodados durante todo o expediente comercial. E eles ficam por lá, sem sofrerem a mínima fiscalização policial.

Essa insegurança se repete nos demais centros comerciais nos bairros mais populosos da Capital, onde as viaturas policiais desfilam diariamente, mas sem dar o ar de sua graça em policiamento a pé, longe do ar-condicionado das cabines das viaturas e em contato com as pessoas, que temem elementos em atitudes suspeitas, os quais estão por lá buscando uma oportunidade para aplicar golpes ou furtos na primeira distração.

Essa insegurança se espalha em setores dominados pelo tráfico e pelas disputas entre faccionados, especialmente nos bairros Calungá, São Vicente, 13 de Setembro e Pricumã, áreas que circundam os locais onde estão os maiores abrigos de imigrantes, por onde transitam bandidos disputando território e vendendo drogas.

Na terça-feira, mais dois corpos decapitados foram desovados nessa região, mais especificamente na área de terrenos baldios nas proximidades do Praça Simón Bolivar, que é o local de grande concentração de imigrantes em situação de vulnerabilidade e por onde o crime se fortalece. É mais um claro sinal de uma guerrilha urbana que não consegue ser vencida pela Segurança Pública.

E a insegurança segue nos bairros mais afastados do Centro, onde as viaturas até passam, mas que não estão efetivamente ocupando o território dominado pelo crime organizado (ou não), onde o medo das pessoas é visível e as regras dos bandidos são a que prevalecem. E isso significa que não basta apenas ter mais viaturas policiais desfilando nas ruas ou tentando passar uma sensação de segurança.

É preciso muito mais que isso, uma estratégia que inclua serviço de inteligência, presença efetiva da polícia nas ruas, políticas verdadeiras de prevenção da violência que possam se somar a ações de repressão ou de reação imediata. Os fatos mostram que os bandidos agem quando bem entendem enquanto as viaturas passam nas avenidas principais ou quando são solicitadas.

Muito mais que colocar policiais na rua, é necessário implantar programas integrados com outras instituições, a exemplo do Juizado da Infância (cujos agentes deixaram de atuar há muito tempo), Conselhos Tutelares (dos quais não se houve mais falar), entidades e órgãos que atuam na Lei Maria da Penha, programas sociais e de socialização de jovens e adolescentes, bem como outras medidas de prevenção.

Mas nada disso é feito, e a Segurança Pública é tratada como mais viaturas desfilando na cidade, em vez de uma ação integrada para enfrentar não só a criminalidade, mas também a ociosidade, o desemprego, a vulnerabilidade social de imigrantes e brasileiros, rigor na fiscalização na fronteira, atividades sociais e recreativas nos municípios e bairros (em vez disso, o Governo do Estado começou a leiloar os parques aquáticos).

Em síntese, muito mais que colocar policiais na rua, é necessário implantar ou fazer funcionar programas integrados com outras instituições, a exemplo do Juizado da Infância (cujos agentes deixaram de atuar há muito tempo) e Conselhos Tutelares (dos quais não se houve mais falar), entidades e órgãos que atuam na Lei Maria da Penha, programas sociais e de socialização de jovens e adolescentes, bem como outras medidas de prevenção e programas de combate e prevenção de violência.

Além disso, está evidenciado que boa parte da violência que se vivencia no Estado parte também do crime organizado, que já se apoderou de garimpos ilegais em terras indígenas, com apoio de empresários e políticos com mandato e sem ou que pleiteiam um. O tema é complexo, mas as autoridades são bem pagas para pensar em soluções e executá-las. Mas quem disse?

As pessoas precisam estar atentas a isso, especialmente aquelas que estão à frente de entidades representativas e dos demais organismos que representam a sociedade organizada.  Se não houver união de todos, essa guerrilha urbana não ficará resumida a acidentes com aeronaves que dão apoio ao garimpo ilegal (aviões caindo em terras indígenas e helicóptero carregado de carote de gasolina explodindo ao bater contra fios de alto tensão), bandidos tomando moto dos cidadãos parados no semáforo ou corpos decapitados lançados em áreas de matagal.

*Colunista