Jessé Souza

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Definitivamente, agora somos uma republiqueta das bananas para o mundo

Jessé Souza*

Se o Brasil ficou conhecido como “República das Bananas”, ao assim ser classificado pelo jornal britânico The Guardian, agora restou confirmado, definitivamente, que somos uma republiqueta de um presidente que alardeia fraude na urna eletrônica mesmo tendo sido eleito historicamente por meio desse instrumento, o qual passou mais de duas décadas sendo reeleito deputado federal também por meio do voto eletrônico.

Os bolsonaristas deveriam ser os únicos a jamais questionarem o sistema eleitoral informatizado brasileiro, pois foi a partir dele que, diante de uma retumbante eleição de Bolsonaro e seus filhos, emergiram do completo anonimato figuras questionáveis que jamais seriam eleitas em condições que não fossem confiáveis – inclusive um deles ficou famoso por ser o “papagaio de pirata” do presidente.

A vergonha nacional ficou marcada pela postura do presidente de reunir embaixadores estrangeiros para tentar dissuadi-los a acreditar em uma mirabolante fraude no sistema eleitoral do país, apresentando farta lista de mentiras sobre fraude nas urnas, fala enfeitada sob um tom golpista. Se isso serviu de motivo de chacota e preocupação internacional, provocou ira nas mais alta renomadas autoridades brasileiras colocas sob suspeita como se fosse um filme de teoria da conspiração digna de uma republiqueta das bananas.

A negação da urna eletrônica,  da qual ele nunca perdeu uma eleição desde a implantação do voto eletrônico, em 1996, foi a última escalada de um presidente que usa fake news como instrumento político e estilo de vida. Mas, convenhamos, antes da negação da urna eletrônica, o negacionismo como instrumento político já provocou estragos nos principais setores, como a saúde e a educação.

Na Saúde, Bolsonaro pregou que a vacina contra a Covid-19 poderia transformar as pessoas em jacaré, como estratégia para desincentivar a imunização da população. E relutou até onde pôde para retardar a compra de vacinas, resultando em mais de 500 mil mortes de cidadãos que esperavam pela imunização. Depois descobriu-se que esse retardamento era para efetivar a compra de vacina superfatura, cujo intermediadores eram um pastor e um policial militar.

Na Educação, trocou seguidos ministros para que eles adotassem uma política educacional negacionista, cortando 30% das verbas para o ensino superior, tentando implantar uma revisão nos livros de História para negar o golpe militar de 1964 e, por último, entregando o setor nas mãos de pastores propineiros, que pediam até barra de ouro para liberação de recursos.

Como política indigenista, estrangulou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e direcionou este órgão para que revertesse o seu papel, passando de defensor dos povos indígenas para negar a defesa dessas populações. Na política ambiental, colocou um ministro que foi acusado pela Polícia Federal de ajudar no contrabando internacional de madeira retiradas ilegalmente da Amazônia.

Mas nada disso foi capaz de provocar uma indignação a ponto de frear o ímpeto do negacionismo e do golpismo. Talvez a última negação que pode acabar com a alucinação do presidente desta republiqueta será a da urna eletrônica somada com a negação da nova política que nunca chegou a ser implantada, como prometido.

Pois, como evocar fraude nas eleições se todos os seus aliados da velha política, expressa na figura do Centrão, deverão se eleger por meio do voto eletrônico? Afinal, o Centrão, de quem Bolsonaro dizia que jamais se aliaria, aprendeu que não se ganha mais eleição fraudando votos em papel, muito menos contratando hackers, mas por meio do fisiologismo, do assistencialismo e da compra de voto às vésperas do pleito.

Da arte de comprar voto a velha política entende. Os adeptos da velhacaria sabem como agir em seus redutos. Qualquer canalha de meia-tigela sabe como se ganha eleição. Eles só começariam a ficar preocupados com o sistema eleitoral se a pobreza começasse a ser erradicada, se a educação começasse a ser prioridade desde a infância e se houvesse condições justas para disputar o mercado de trabalho para todos sem ter que sacrificar os estudos e a própria vida.

Fraude em urna eletrônica é conversa de republiqueta de algum presidente golpista e paranoico que acha que pode se perpetuar no poder se valendo de ferramentas sórdidas, as quais já se provaram ineficazes quando extremistas insuflados por discursos conspiratórios invadiram o Capitólio, nos Estados Unidos. Todos sabem no que deu.

*Colunista