Tragédia anunciada diante da vergonhosa situação da principal rodovia de RR
Jessé Souza*
Infelizmente, continua ocorrendo o que foi previsto no artigo publicado no dia 31 de maio deste ano, sob o título “Mais uma cena de tragédia anunciada diante das condições de nossas estradas”. O tema foi a respeito da situação da BR-174, após dois acidentes com vítimas fatais, um no trecho sul, matando uma funcionária do IBGE que dirigia o seu próprio carro, e outro no trecho norte, cuja vítima foi um passageiro de um táxi intermunicipal que havia capotado. Nos dois casos, os acidentes foram motivados por buracos na pista.
Em artigo anterior, naquela época, esta coluna já havia afirmado que as condições dessa importante rodovia eram prenúncios de graves acidentes que poderiam ocorrer a qualquer momento, desta vez não como simples fatalidade ou tão somente imprudência do condutor. “Como tragédia anunciada, este novo caso apenas reforça a situação perigosa da principal estrada de Roraima, em precárias condições muito antes das chuvas rigorosas”, foi comentado depois da segunda morte.
E, na tarde deste domingo, no trecho norte, mais outra morte na colisão de uma van do transporte escolar e um táxi intermunicipal, no trecho norte da BR-174. Não há dúvidas de que as condições precárias da principal rodovia federal que corta Roraima de Norte a Sul são as responsáveis por esses acidentes, obviamente que somado a possíveis imprudências, uma vez que muitos condutores continuam em alta velocidade, apesar dos buracos que tomam conta de praticamente toda extensão daquela rodovia.
Os enormes buracos obrigam os condutores a fazerem zigue-zague na pista ou mesmo conduzirem seus veículos na contramão por alguns metros, principalmente carretas pesadas que fazem transporte de carga para a Venezuela. Nesse meio, há os carros de passeio e picapes que, apesar da buraqueira, insistem na alta velocidade, especialmente os transportes de passageiros intermunicipais.
A lentidão das obras de recuperação da BR-174 é surpreendente e contribui para este quadro. Logo após um trecho ser recuperado, os buracos se abrem e obrigam a empresa a fazer serviços de tapa-buracos, obra esta que também demora e que permite que os pequenos buracos se tornem imensas crateras em um curto período, seja por causa das chuvas e o peso das carretas. E assim o cenário da principal rodovia do Estado se torna um pesadelo para todos.
Não custa frisar, novamente e quantas vezes foram necessárias, que a qualidade das estradas e vicinais é a condição básica para o desenvolvimento do Estado de uma forma geral, principalmente para garantir bem-estar de quem trafega, incluindo aí os turistas, quanto boas condições para o escoamento da produção agropecuária. A 174 se tornou o símbolo da vergonha e morosidade de nossas autoridades, que deixaram de agir para fiscalizar as obras muito antes de se tornarem pesadelo e carnificina.
A recuperação de rodovias e vicinais nunca foi tratada como serviço essencial por seguidos governos, muitas vezes servindo de promessas para conquistar votos ou de esquema para desovar recursos de emendas parlamentares e de convênios federais. Então, isso precisa acabar definitivamente para o bem de todos, a fim de que as estradas passem a ser tratadas como prioridade por parte das autoridades, inclusive municipais.
*Colunista