Jessé Souza

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Voo macabro transfronteiriço, soberania e o preço da cartela de ovo

Jessé Souza*

Houve um estranho silêncio das autoridades brasileiras a respeito do helicóptero que partiu da Venezuela, sem qualquer identificação na fuselagem, com os corpos de cinco garimpeiros brasileiros mortos em uma frente de garimpo naquele país vizinho. Foi uma cena macabra em que os corpos em decomposição enrolados numa lona foram trazidos içados em uma imensa rede e deixados  numa área de lavrado. 

Além de a aeronave não ter nenhum prefixo, não tinha autorização para sobrevoar o Espaço Aéreo Brasileiro, muito menos para pousar. A carga macabra foi deixada na Vicinal 6 do assentamento Campos Novos, no Município de Mucajaí, região conhecida por ser utilizada para apoio ao garimpo ilegal na Terra Yanomami, de onde partem voos clandestinos tanto para garimpos ilegais brasileiros quanto venezuelanos.  

O caso serviu para mostrar que a fronteira Norte do país se tornou uma terra sem lei, com violações aéreas e terrestres, ferindo a soberania brasileira, enquanto a principal ação das Forças Armadas é servir  ao discurso golpista de fiscalizar a urna eletrônica, para onde estão voltados todos os focos das atenções.  Ou estamos diante de um escândalo sem precedentes ou há algo muito mal contado na invasão ao território brasileiro por aquela aeronave sem identificação. 

Seja qual for a verdade dos fatos, este caso não é isolado e remete à avaliação trazida pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, inclusive tema já tratado nesta coluna, no tópico “A geografia da violência na região amazônica”, o qual aponta que “o próprio Estado atua como um dos responsáveis pela manutenção das desigualdades e dos usos e abusos nos territórios” na região Amazônica. Tudo cheira a uma conivência ou um brutal conluio. 

Os fatos não são isolados, com helicóptero de garimpo pintado de Bandeira Nacional desfilando pela Capital, bem como diversas autoridades e políticos atuando de todas as formas para facilitar o garimpo ilegal.  Há muito a que se refletir sobre estes últimos episódios à luz das avaliações que constam no Anuário Brasileiro de Segurança Pública.  Não se trata mais de ser apenas “contra e a favor”.  Há um movimento supranacional atuando com todas as suas forças. 

Já está comprovado que essas forças nem tão ocultas assim têm esse poder de tornar um caso de escândalo nacional em uma simples manobra de um voo fúnebre. Pelo visto, o cortejo fúnebre  em questão está mais para velar a soberania brasileira na fronteira Norte, enquanto todos estão muito preocupados em sobreviver a este momento crítico da economia, em que baixa o preço da gasolina, mas os preços do alimentos continuam subindo.

Então,   é  mais lógico se preocupar com uma cartela de ovo chegando a R$24,00 do que com helicóptero com corpos pendurados atravessando a fronteira. 

*Colunista