Embusteiros acharam a chave do pós-verdade em tempos de internet
Jessé Souza*
Da mesma forma que, no passado, muitos não tinham o hábito de recorrer diretamente a veículos de comunicação para buscar informações, esperando que as notícias chegassem ou que o Jornal Nacional começasse, muitos continuam com o mesmo comportamento de não buscar suas próprias fontes. Agora, os grupos de WhatsApp e as redes sociais cumprem esse papel de levar informações de maneira cômoda para quem nunca teve o hábito de buscar seus próprios meios de se informar.
E foi aí que os malfeitores da chamada pós-verdade encontraram as portas abertas para a mentira, a fraude, a falsidade e as ideias de desconstrução da ciência, da educação, da fé e da política. Já que os embusteiros descobriram que muitas pessoas estão sujeitas a acreditar como verdade tudo aquilo que é tratado no apelo à emoção ou às crenças pessoais de cada pessoa, então surgiram as fake news como instrumento do pós-verdade.
As pessoas passaram a tratar compartilhamento de WhatsApp e de redes sociais como “um novo jornal”, aceitando as mentiras sem contestar ou mesmo checar a veracidade. Até aqueles aparentemente conscientes de seu papel como cidadãos passaram a acreditar nas mentiras, servindo de compartilhadores de fake news da mesma forma que se acreditava, no passado, que teriam que repassar aquelas cartinhas de oração sob pena de sofrer uma tragédia, caso quebrasse a corrente.
Esse é o grande desafio dos dias atuais, não só durante a campanha eleitoral como também no dia a dia, pois muitos deixam de se vacinar, por exemplo, apenas por passar a acreditar nas mentiras criadas com viés ideológico e religioso com a finalidade de conduzir um processo de emburrecimento coletivo para abrir as portas para uma política de extrema direita.
Os grupos de WhatsApp se tornaram esse instrumento a serviço do embuste e da mentira, em que as pessoas passam a acreditar em coisas tão absurdas a ponto de começarem a questionar a importância da educação como instrumento de transformação de uma sociedade em busca do seu desenvolvimento. E buscam na política os embusteiros que sabem como mexer na consciência de pessoas fragilizadas por suas crenças e descrenças.
Ou vencemos as mentiras como um dos principais inimigos da sociedade, ou iremos jogar o país em uma vala tenebrosa, com desmonte de tudo aquilo que alcançamos, inclusive a democracia, que é uma das primeiras vítimas desse desmonte social e emburrecimento da sociedade. As fake news ameaçam principalmente as mídias e os veículos de comunicação independentes como um dos pilares da democracia, os quais precisam se repensar antes que seja tarde demais.
*Colunista