A situação da infância e adolescência na escola precisa de atenção máxima
Jessé Souza*
Nos últimos dias, a imprensa tem noticiado informações sobre político preocupado em criar mais delegacias para idosos e autoridades empenhadas em ampliar atendimento para mulheres vítimas de violência doméstica. Porém, há muito tempo não se vê nenhuma manifestação ou empenho na defesa e no acompanhamento da situação da infância e adolescência roraimenses. Até mesmo órgãos e entidades que lidam com crianças e adolescentes não se pronunciam mais.
Há um silencioso problema que vem ocorrendo desde o início da pandemia, no ano de 2020, que é a defasagem escolar de crianças e adolescentes, principalmente no interior e nas comunidades indígenas, onde muitos alunos desistiram de estudar ou mesmo não aprenderam nada porque não tinham condições de acompanhar as aulas de forma remota. Mesmo com a reabertura das escolas, os problemas persistiram. Há localidades onde as aulas nunca foram retomadas por falta de transporte escolar. Em outras, faltam professores.
A situação é tão séria que muitas escolas se habituaram a não ter mais aula, encontrando justificativas para não haver aula em determinados dias naquelas localidades onde as aulas presenciais reiniciaram. Inclui-se aí a suspensão de aulas para que seja feita distribuição de cesta básica pelo governo, ação que se intensificou coincidentemente neste período eleitoral. E tudo isso sob o silêncio não apenas de pais, professores e gestores, mas também das entidades comunitárias e do próprio Conselho Tutelar, que deixou de agir há muito tempo.
A falta de aula e o abandono de sala de aula são um problema tão sério quanto casos de maus-tratos e abusos sexuais, pois o analfabetismo e a deficiência educacional representam um flagelo para o futuro de nossa sociedade, principalmente neste momento político em que temos um governo que não valoriza a educação e despreza a ciência. É por isso que conselheiros tutelares, promotores de justiça, agentes do Juizado,
vereadores e outras autoridades deveriam estar empenhados em combater esse grave problema, da mesma forma que se combate a exploração sexual ou da mão de obra de crianças e adolescentes.
A falta de aula por causa do transporte escolar, o abandono de sala de aula pós pandemia e a constante falta de professores precisam estar nos planos de preocupação das autoridades em todos os níveis, principalmente em nível estadual, onde há sérias deficiências que estão sendo ignoradas por toda sociedade, incluindo aí a Promotoria da Infância e principalmente Conselhos Tutelares no interior do Estado e comunidades indígenas.
Não se pode ignorar este grave problema sob pena de toda sociedade pagar um preço muito alto não apenas na questão do desenvolvimento de um Estado ou país, mas também em um futuro bem próximo com a ociosidade de crianças e adolescentes, que poderão estar a um passo da marginalidade e, por conseguinte, da criminalidade cuja porta de entrada são as drogas e o passo seguinte é a cooptação pelo crime organizado.
A preocupação com a situação dos idosos e das mulheres vítimas de violência doméstica precisa sempre estar na pauta das políticas públicas. Mas a delicada situação das crianças e adolescentes de Roraima também necessita de prioridade máxima, especialmente neste momento de migração em massa, crime organizado, avanço das drogas e graves reflexos no sistema educacional após a pandemia. Nenhuma sociedade conseguirá se desenvolver se não estiver olhando para a educação de suas crianças. O momento é delicado.
*Colunista