Operações policiais que revelam as ligações mais surpreendentes
Jessé Souza*
A segunda fase da Operação Jumbo, deflagrada nesta quinta-feira em Roraima, São Paulo e Mato Grosso, sequer provocou burburinhos nas redes sociais e foi noticiada discretamente sem quaisquer detalhes. Mas os bons entendedores já sabem que há algo muito estranho quando um fato é tratado sem muita informação oficial e pouco questionado por jornalistas, os quais têm a obrigação de ofício de serem críticos e de buscarem detalhes de fatos cabulosos. Basta lembrar que todos já esqueceram o caso de policiais militares envolvidos no caso do avião.
No caso específico da Operação Jumbo, as investigações se concentram em uma organização criminosa que se divide em dois núcleos: um é responsável pela logística e transporte da droga; e outro composto por empresários, que lavavam o dinheiro da venda da droga em postos de combustíveis, conveniências e até mineradora (o que não seria absurdo pensar na possibilidade da negociação de ouro do garimpo ilegal). Ontem foi apreendido R$1 milhão em dinheiro vivo nas residências, além de cadernos de anotações e armas.
O fato é que esse grupo que age em municípios do interior, além de na Capital de Roraima e do Mato Grosso, já movimentou R$ 350 milhões em quatro anos com a lavagem de dinheiro nos estabelecimentos. Essa cifra foi apurada pela PF ainda na primeira fase da operação, em maio deste ano, quando o cabeça do grupo foi preso em Mato Grosso, um taxista que virou dono de posto de combustível do dia para a noite, o qual é ligado a uma facção criminosa que atua em todo o país.
Não é a primeira vez, nem será a última, que a PF encontra ligações de crimes com postos de combustíveis. Em Roraima, em agosto do ano passado, um ex-deputado federal, que é dono de rede de postos, foi preso com meio milhão de reais e mais ouro em pó, típico de extração de garimpo ilegal, durante a Operação Suserano, que investiga o desvio de quase R$ 12 milhões em recursos públicos federais, provenientes de emenda parlamentar, destinados à realização de obras em municípios do interior.
Não custa lembrar que essa operação foi um desdobramento da Operação Godfather, deflagrada em outubro de 2020, que investiga o envolvimento do mesmo ex-deputado e empresário em fraudes de mais de R$14 milhões em contratos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau). Isso apenas para contextualizar as ligações que os fatos têm nas diferentes investigações policiais, que vão de postos de combustíveis, passando por ouro, recursos da saúde pública e até verbas de emenda parlamentar.
Se fôssemos puxar o fio dessas operações policiais, dando detalhes de tudo o que foi apurado, chegaríamos a cifras inimagináveis desviadas dos cofres públicos, o que possibilitaria ter a real noção do porquê Roraima está nas atuais condições. Por sua vez, as operações da PF que investigam a ação do crime organizado no tráfico de droga e na lavagem de dinheiro revelam o poderio do crime que mina as forças do Estado e acumula mais poder. E a política de vez em quando se cruza com esses crimes.
É por isso mesmo que somos levados a esquecer rapidinho esses fatos que ocorreram um dia desses, mas que parecem de um tempo muito distante. Porque eles mexem com o centro do poder, a exemplo do que ocorre com o garimpo ilegal. Mas os fatos estão aí. É só puxar no Google que tudo aparece em um átimo. Basta querer saber. Ou não.
*Colunista