Jessé Souza

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Mais um crime e a falta de uma política pública para combater as causas da criminalidade

Jessé Souza*

Mais um assassinato no Residencial Vila Jardim, localizado no bairro Cidade Satélite, na noite de sexta-feira passada, desta vez um adolescente venezuelano de 15 anos, mostra a incapacidade das autoridades policiais em retomar aquele setor da cidade entregue à criminalidade, conforme já foi abordado por esta coluna, a qual é reflexo do tráfico de drogas ali instalado há um certo tempo.   

Esse cenário de insegurança não é só ali, mas aquele conjunto habitacional tornou-se refém da criminalidade que se aproveita da desorganização do poder público que largou aqueles 15 mil moradores à própria sorte, sem ajudá-los ao menos a se organizarem, uma vez que morar em apartamentos cujos blocos precisam ser administrados por síndicos é uma realidade ainda não assimilada especialmente por famílias de baixa renda.

Quando o residencial foi inaugurado e ocupado pelas famílias, houve uma atuação da Polícia Militar, que estava presente em rondas ostensivas por meio da Cavalaria e Grupamento Independente de Intervenção Rápida Ostensiva (GIRO). Mas três anos depois, em 2019, já havia se instalado a insegurança, com o tráfico de droga dominando o local.

Naquele ano, em entrevista à Folha, moradores relatavam que a criminalidade havia tomado de conta, com a venda e o uso de drogas à luz do dia, pois a polícia não mais se fazia presente. A realidade atual só pirou, mesmo havendo uma base da PM naquele conjunto, que está lá apenas para dizer que está presente, pois o tráfico e outros crimes rolam soltos, como assaltos a pessoas e roubo de motos, os quais são mais corriqueiros.

Mas o problema da violência crescente, em Roraima, não é uma questão apenas de polícia. A pobreza tem aumentado, especialmente com a imigração venezuelana, o que favorece a ampliação da criminalidade, fator esse somado a famílias com baixa escolaridade, rendimento que não supre mais as necessidades das famílias e a ociosidade de crianças e adolescentes, bem como outros fatores.

No Vila Jardim, por exemplo, é visível a ociosidade de crianças e adolescentes que passam a viver em constantes vulnerabilidades, presenciando a venda e o uso de drogas abertamente, o que fatalmente influenciará a vida delas, o que pode facilitar a entrada de jovens para o mundo do crime, especialmente no atual contexto do crime organizado que disputam território e integrantes.

O tráfico domina a cena no Vila Jardim, enquanto pais e mães saem para trabalhar e deixam seus filhos à mercê do que ocorre nos corredores desvigiados que se formam entre os imensos prédios. Obviamente que há exceções, mas quem for àquele residencial vai perceber toda a movimentação de jovens traficando enquanto crianças e adolescentes já se habituaram a esta cena.

Estudos publicados recentemente mostram que as vulnerabilidades dos locais onde as crianças vivem podem influenciar a criminalidade praticada por jovens, inclusive nos Estados Unidos existem pesquisas que revelam que aumentam as chances de os jovens cometerem crimes se eles morarem em bairros sem estrutura ou com a presença de gangues.

É fato que aquele conjunto tem recebido algumas ações sociais nos fins de semana. Mas isso não é o suficiente, pois é necessário ir mais além com políticas públicas efetivas para tirar crianças e adolescentes do ócio, promover capacitação para desempregados a fim de que eles acessem o mercado de trabalho, ofertar cursos preparatórios para vestibular e concursos a adolescentes e jovens, promover acessos a políticas assistenciais e outras ações que possam mudar a realidade daquelas famílias.

Mas esse socorro não deve ser apenas ali, naquele local, mas em todo o Estado, como política de governo em conjunto com entidades e a sociedade organizada em geral. No entanto, não se vê interesse político nem de governo para mudar essa realidade. Estão mais preocupados em doar cesta básica pensando no voto do que em combater as vulnerabilidades sociais e a pobreza.

E a falta de uma política efetiva de governo acaba sendo tratado tudo como apenas falta de mais polícia na rua. Essa conta nunca fecha. Da forma que está será necessário construir mais presídios, enquanto o governo sequer constrói escolas. Essa é a nossa infeliz realidade: estão combatendo os efeitos, e não as causas que motivam a criminalidade.

*Colunista