Águas reluzentes da Praça Interativa que chamam atenção sobre o Parque Anauá
Jessé Souza*
Em outras oportunidades, esta coluna já tratou sobre o descaso com o Parque Anauá nos seguidos governos, desde que foi construído pelo então governador Ottomar Pinto. O mais recente artigo foi o do dia 24 de maio deste ano, sob o título “Parque Anauá: de história do passado para uma triste realidade atual”, quando foi comentado um pouco da história daquele local e da importância dele para os roraimenses, carentes de eventos direcionados principalmente para as famílias.
Não custa repetir que se trata do maior parque urbano da região Norte, com área de 106 hectares, mas que é subutilizado e submetido ao desprezo em sua estrutura e em relação a sua importância para o lazer, a cultura, o entretenimento e também o contato com a natureza pelos roraimenses. A sucata em que se transformou o parque aquático e o prédio do Museu Integrado de Roraima (MIRR), que lá funcionavam, resume bem esse cenário de abandono e descaso.
A realidade de hoje esconde ainda obras inacabadas vergonhosamente, cujo governo não mostrou interesse em resolver a questão. A placa de identificação indica a contratação de uma empresa pelo valor aproximado de R$5,7 milhões para realizar uma segunda etapa de obras, cujos serviços iniciaram no dia 19/11/2021, com término previsto para 18/05/2022, porém nunca concluídos. Essa empresa abandonou a obra e foi substituída por outra, com sede em São Paulo. Tudo estava orçado em R$ 23,5 milhões (R$ 14,5 milhões para a primeira etapa e R$ 9 milhões para a segunda).
Faltando alguns dias para a eleição, o Governo do Estado reinaugurou a Praça Interativa Renato Hadad, que integra a estrutura do Parque Anauá, ao lado do Ginásio do Totozão, que continua abandonar e com suas estruturas abaladas. E quando a população achava que era só celebrar a reabertura de um espaço importante para o lazer e o turismo, dando um alento aos frequentadores do parque, aí surge uma notícia cabulosa sobre o terreno onde foi construída a Praça Interativa.
A Praça Interativa José Renato Hadad foi inaugurada em 2007 por Ottomar Pinto, mas o ato de desapropriação do terreno onde ela foi construída só ocorreu em 2010, através do Decreto nº 11.789-E/2010, assinado por outro governador, Anchieta Júnior. Porém, depois de todos esses longos anos, o atual governo decidiu pagar pela desapropriação em um acordo extrajudicial e sem respeitar a ordem cronológica de pagamento, por se tratar de um precatório.
Mesmo existindo uma ação judicial movida pelos donos do imóvel cobrando indenização do Governo de Roraima pela desapropriação do terreno, que se encontra tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governo fez um acordo, idealizado pela Casa Civil e corroborado pela Procuradoria Geral do Estado (Proge), que resultou no “pagamento amigável” da primeira parcela do total de R$ 45,6 milhões da indenização, restando ainda uma parcela de R$ 23 milhões.
Atendendo a uma ação popular, a Justiça mandou estornar o valor de R$ 22.618.498,99 pagos pelo governo, referente à primeira parcela do referido acordo, mas o banco informou que na conta dos proprietários do terreno só haviam R$3,1 milhões, o que se supõe que os demais R$19 milhões já criaram asas. Pela forma e a pressa que tudo foi feito, faltando poucos dias para as eleições, o caso merece toda atenção, pois são recursos públicos que estão em jogo.
Enquanto tudo isso ocorre, as demais estruturas do Anauá seguem sem atenção devida, em que as águas iluminadas que jorram da Praça Interativa José Renato Hadad servem para lembrar da necessidade de se fiscalizar a boa aplicação dos recursos públicos. É imprescindível que seja bem esclarecido não só a respeito do dinheiro pago de forma rápida e furando fila, mas também dos recursos destinados ao Parque Anauá, cujas obras estão largadas há anos.
*Colunista