As trágicas mortes no trânsito e a imobilidade para se enfrentar a grave realidade
Jessé Souza*
Acidentes automobilísticos com mortes marcaram o início deste mês no Estado, revelando a necessidade de se trabalhar a prevenção, por meio da educação e conscientização, uma vez que a imprudência dos condutores foi o principal motivo nos casos mais graves, com mortes. Porém, esse trabalho não tem sido visto no Estado de Roraima.
A legislação afirma que o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) é o órgão nacional que controla, supervisiona e fiscaliza todas as políticas de trânsito do Brasil, além de ser responsável por ações de educação e conscientização no trânsito. Por sua vez, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) tem o papel de ser uma unidade estadual que representa o Denatran.
No entanto, por aqui, essa autarquia não tem cumprido com o seu papel, conforme determina a legislação, enquanto tem servido para acomodar aliados políticos desde o início da atual gestão e de gestões anteriores, conforme foi amplamente noticiado pela imprensa e pelas redes sociais dando nome aos bois.
Ficou marcado, este ano, a troca de comando político do órgão, que foi parar nas mãos de um deputado federal, cuja primeira ação do novo titular foi promover uma super blitz cedo da manhã, com ajuda da Polícia Rodoviária Federal (PRF), provocando não apenas transtornos à população da zona Oeste, como revolta pelos danos causados aos condutores que se dirigiam para o trabalho.
A intenção era provocar uma nova postura de arrocho na fiscalização repressiva sem antes trabalhar a educação e a conscientização, enquanto o Detran mal conseguia (como não conseguiu até hoje) concluir a construção de uma nova sede, que ficou apenas nas propagandas institucionais. Obviamente que o plano de arrochar o contribuinte não deu certo.
Enquanto o órgão de trânsito (assim como outras pastas e autarquias) é usado como moeda de apoio partidário e/ou eleitoral, os problemas no trânsito se avolumam, com perdas de vida, famílias órfãs, gente mutilada, pessoas invalidades temporária ou definitivamente, além de acidentados engrossarem a fila nos hospitais e provocarem prejuízos ao setor econômico com faltas ao trabalho e afastamento previdenciário.
Enquanto isso, a única iniciativa que surgiu nos últimos tempos foi uma proposta, na Câmara de Vereadores, de se acabar com as fiscalizações eletrônicas na Capital, liberando mais ainda a irresponsabilidade e imprudência de condutores que só respeitam as leis quando pesa no bolso. É importante lembrar que não se pode confundir o combate à “indústria da multa” com o “liberou geral no trânsito”.
As trágicas mortes no trânsito, na semana passada, com dois motociclistas mortos em colisões frontais com carros, precisam servir de reflexão. Mas, pelo que foi visto na repercussão dos casos, resta apenas a dor de familiares, amigos e conhecidos, enquanto as autoridades não se importam com o que está ocorrendo. E isso precisa mudar.
Até aqui, o único grande projeto é a construção da sede do Detran, que já virou uma novela sem audiência, pois não se vê ninguém cobrando a conclusão das obras. Já passou da hora de as autoridades verificarem o que está acontecendo, incluindo essa morosa obra, e as ações que não estão sendo realizadas diante da guerrilha que se tornou o trânsito roraimense.
*Colunista