Jessé Souza

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Não se trata de um meme, mas da realidade de um país de privilégios e esquemas

Jessé Souza*

Parece um meme os casos de deputados estaduais perdendo o mandato faltando quase dois meses para terminar o ano, enquanto os suplentes passaram quatro anos esperando o julgamento final dos recursos das cassações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mas não é piada. Trata-se de um Brasil verdadeiro que funciona acima da letra morta da legislação e que surfa nas brechas das fartas leis que privilegiam quem está no poder e pune com rigor os pobres e todos aqueles que não conseguem bancar advogados para que recorram até a última instância.

O caso dessas cassações é tão bizarro a ponto de ter dado tempo para um dos cassados se reeleger para que em dezembro seja diplomado pela Justiça Eleitoral e, em janeiro de 2023, assuma um novo mandato, como se nada tivesse ocorrido, como se estivesse debochando da Justiça.

Os demais cassados que não se reelegeram por não terem suas ações transitadas em julgadas, ou seja, julgadas finalmente até não mais caber mais recursos, vão terminar os seus mandatos na boa, com um sorriso no canto da boca, mesmo não tendo se reelegido, também fazendo pouco caso da Justiça.

Não bastasse esse instituto que garante uma chuva de recursos que garante os condenados a recorrerem no cargo, existem ainda a morosidade da Justiça e as montanhas de privilégios, a exemplo de como o próprio nome já diz: foro privilegiado em todos os níveis. São 55 mil ocupantes de cargos públicos beneficiados por esse instituto legal que acaba servindo como incentivo à corrupção e impunidade.

Enquanto a morosidade da Justiça beneficia os que têm poder e dinheiro, na própria Justiça sobram privilégios, a exemplo da Emenda Constitucional 122, de 17 de maio de 2022, que possibilitou aumentar de 65 para 70 anos a idade máxima para indicações e ingresso no Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça, além dos Tribunais Regionais Federais (TRFs).

Não passa de um privilégio legal para que alguns magistrados possam ser indicados para esses cargos para trabalhar por apenas cinco anos, enquanto a grande massa de brasileiros e brasileiras assalariados sequer consegue ficar viva para se aposentar somente após 35 ou 40 anos de duro trabalho com carteira assinada.

E assim temos um país que está indo às urnas achando que o grande mal é o comunismo ou fascismo, enquanto os privilégios aos mais ricos e poderosos, bem como a corrupção institucionalizada que faz enriquecer uma casta de políticos, empresários e seus grupos, afundam o país onde os pobres ficam cada vez mais pobres e os ricos mais ricos.

Enquanto isso, brincam de cassar dois deputados como forma de justificar que algo está sendo feito neste país da esculhambação geral das nação, enquanto os demais dessa grande casta seguem com seus privilégios e seus esquemas enraizados a cada governo. O Brasil, definitivamente, é um meme.

*Colunista