Após onda bolsonarista, desafio agora é a luta pela reconciliação do país
Jessé Souza*
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito em 2018 para governar o Brasil surfando numa onda bolsonarista que varreu o país sob a promessa de uma “nova política” que iria acabar com a corrupção. O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), hoje reeleito no primeiro turno, também chegou ao poder surfando nesta onda e ainda levantando a bandeira do “não político” contra a “velha política”.
Quatro anos depois, Bolsonaro foi derrotado nas urnas sem ter conseguido inaugurar essa nova Era prometida na política, após ter se entregado ao Centrão, e acusado ter montado o maior esquema de compra de aliados, por meio do orçamento secreto, e de ter colocado em prática o uso da máquina pública de uma forma jamais vista no país durante um período eleitoral.
Um fim melancólico, apesar de ter turbinado o valor do Auxílio Brasil de R$600,00, de ter antecipado o pagamento dos programas sociais e autorizado os beneficiários dos programas sociais a pegar empréstimos consignados. Um levantamento feito pela agência Reuters aponta o uso inédito da máquina pública em busca da reeleição, cujo pacote completo chegou a R$273 bilhões.
O uso da máquina deu certo em Roraima, onde o governador abriu as torneiras para pagar benefícios sociais, fazer pequenas reformas na casa das pessoas, distribuir cestas básicas e outras benesses, além de antecipar o pagamento do salário do funcionalismo público. Mas não deu certo para Bolsonaro porque havia uma grande rejeição por tudo o que ele não fez durante a pandemia e no não cumprimento da promessa de acabar com a chamada velha política.
Nem mesmo a anúncio do aumento do salário mínimo para R$1.400,00 durante o último debate televisivo, às vésperas do dia da votação, foi suficiente para Bolsonaro reverter os números da votação no primeiro turno, impondo uma inédita derrota de um presidente em campanha pela reeleição. Até porque esse suposto reajuste não estava programado no Orçamento enviado para o Congresso.
Além de não ter cumprido com o que prometeu, a pauta armamentista colocada como prioridade não foi digerida muito bem diante do surgimento de um extremismo sem precedentes no país, que chegou as últimas consequências com as ações de aliados bolsonaristas: o ex-deputado Roberto Jefferson atirou e lançou granada contra policiais federais, e a deputada Carla Zambelli (PL-SP) apontou uma arma para um petista negro.
Apesar de todos os erros, tropeços e atropelos, a máquina ainda mostrou seu peso e o país saiu dessa eleição bem dividido, com Bolsonaro perdendo por uma diferença de quase dois milhões de votos. Então, a missão agora de petistas e dos que não votaram em Bolsonaro por causa de seus atos e atitudes é de pacificar o Brasil, o que não é uma missão fácil diante do extremismo que se formou diante do embate entre esquerda x direita.
A democracia foi testada a sua máxima potência, mas o extremismo mostra que ainda vai seguir com todas as forças, alimentadas por fake news que fazem a cabeça daqueles que passaram a respirar uma mistura de política, religião e teorias conspiratórias como parte de suas vidas. E quem ganhou a eleição terá esse papel de lutar por reconciliação, com espírito desarmado de qualquer revanchismo ou tentando por uma ânsia de apelar para o extremismo.
Uma difícil missão.
*Colunista