A política liberal ao avesso só liberou protecionismo a quem já era rico
Jessé Souza*
Não se sustenta o discurso de que, com o fim do governo Bolsonaro, o Brasil estará abrindo mão de um sistema de governo que preza pelo liberalismo, com menos intervenção do Estado e mais privatizações, na mesma medida em que defende a liberação comercial, para dar lugar a um governo intervencionista e centralizador (alguns chegam ao absurdo de falar até em comunismo).
Desde o começo, vimos um governo que se mobilizou rapidamente para reduzir direitos trabalhistas e previdenciários, a pretexto de gerar mais emprego, quando a proposta era favorecer grandes empresários, os quais tiveram uma política protecionista durante e depois da pandemia, quando os banqueiros receberam algo em torno de R$1,2 trilhão para que os bancos emprestassem a grandes empresas, além de R$650 bilhões para empréstimos destinados a lastrear operações.
Enquanto banqueiros e grandes empresários tinham cerca de R$2 trilhões concedidos pelo governo, os pequenos, micros e médios empresários nada receberam de apoio ou incentivo, na mesma medida em que o trabalhador teve direitos reduzidos e muitos ficaram desempregados não só como reflexo da pandemia, mas também por causa das reformas trabalhistas, aumentando a pobreza no país.
Enquanto o povo tentava sobreviver e os ricos contavam com o protecionismo, o governo colocou em prática o maior plano para abrir caminhos para o agronegócio, grandes madeireiras, mineradoras e empresários do garimpo ilegal, cuja proposta era reduzir fiscalização ambiental, facilitar concessão de autorizações ambientais ou anular multas, abrir terras indígenas e sucatear os órgãos federais para que o governo pudesse adotar uma política mais ausente possível na política ambiental.
O Estado de Roraima seguiu uma linha muito semelhante, priorizando o agronegócio, afagando madeireiras e tentando o máximo possível dar legalidade ao garimpo, inclusive chegando a sancionar a “lei do garimpo” que permitia inclusive o uso do mercúrio, além de ter sancionado outra lei para impedir que policiais e agentes estaduais apreendessem material de garimpo.
Portanto, o que foi colocado em prática no país, nos últimos quatro anos, está longe de ser uma política liberal ou neoliberal, mas sim o maior plano de protecionismo aos ricos, com o sucateamento de todo o aparato estatal para que os ruralistas, mineradores, madeireiros e grileiros pudessem avançar suas fronteiras e divisas, enquanto ao pobre só restou o avanço da pobreza, com os trabalhadores tendo seus direitos reduzidos.
Quando percebeu a real possibilidade de perder as eleições, o governo imediatamente esqueceu de toda a mentira de um governo liberal e adotou a cartilha do populismo, já que o pobre havia sido esquecido propositalmente, ao turbinar os benefícios sociais às vésperas da votação, mostrando que o liberalismo tratava-se apenas de uma mentira.
Agora precisamos de um governo que desmonte todas as granadas jogadas no bolso dos mais pobres e dos pequenos, micros e médios empreendedores, a começar com uma política de inclusão social efetiva para que as pessoas possam ao menos ter uma refeição digna a cada dia, além de mecanismo para que possam ser gerados os empregos que o trabalhador tanto precisa.
Porque esse liberalismo ao avesso só ajudou os grandes – e isso serve também para o Estado de Roraima.
*Colunista