Setor energético segue sem explicação com mais um apagão na conta das autoridades
Jessé Souza*
A atual legislatura da Assembleia Legislativa está nos seus últimos suspiros, mas não deu respostas satisfatórias aos principais problemas enfrentados pelo Estado de Roraima, a exemplo da situação do fornecimento de energia termoelétrica na Capital e interior, não dando satisfação sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para o investigar o setor.
Criada e instalada em outubro de 2019, a CPI da Energia Elétrica tinha a finalidade de investigar o fornecimento de energia aos consumidores de Roraima, sob o argumento de que a empresa que se instalou em Roraima só havia reajustado o valor da tarifa, mas sem melhorar a qualidade do serviço prestado à população. E tudo ficou sem resposta.
No dia 02 de junho deste ano, esta coluna publicou o artigo “O tormento dos apagões e os dados colocados à mesa que exigem explicações” justamente cobrando resposta das autoridades sobre o precário serviço prestado pela empresa energética especialmente no interior do Estado, onde os apagões se tornaram um problema constante.
Naquela época, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) havia divulgado, três meses antes, que a distribuidora que abastece a Capital e algumas localidades do interior mais próximas registrou Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC) de 2,21 apagões em março deste ano. Cada unidade consumidora havia sofrido mais de dois apagões no mês, considerando interrupções iguais ou superiores a três minutos.
De lá para cá, a situação só piorou, mas as autoridades optaram pelo silêncio, inclusive com a CPI da Energia já arquejando naquele momento, pronta para ser morta e enterrada sem qualquer justificativa para a população. Na madrugada desta segunda-feira, 05, veio a consequência: um apagão geral por mais de três horas em Roraima, sem que a empresa desse uma explicação plausível ao que realmente está acontecendo.
Antes disso, outras localidades do interior já enfrentavam situação pior. No Município do Amajari, por exemplo, a sexta-feira passada, 02, foi marcada por um dia de cão, com apagões que se seguiram até a noite, quando moradores tiveram eletrodomésticos queimados e prejuízos no comércio em geral, especialmente para quem mora na Serra do Tepequém, que vive do turismo.
Fontes desta coluna afirmam que, no caso do Amajari, o gerador é antigo e precisa passar por substituição de peças, mas não há um profissional habilitado para realizar o serviço. Ou seja, será necessário trazer alguém de fora para realizar a manutenção, trabalho este que deverá deixar os moradores por mais de 24 horas sem o fornecimento de energia!
Na Capital, não há informações sobre o que está ocorrendo. Mas, no artigo de junho deste ano, esta coluna relembrou situações passadas, quando fontes afirmaram que estavam ocorrendo falhas no processo de gestão e na gestão da informação, com os problemas encobertos pela falta de transparência. Na gestão técnica seria pior ainda porque não havia manutenção adequada, o que provocava a quebra de geradores.
Inclusive, ex-técnicos da empresa afirmavam que, naquele tempo da retomada da energia termoelétrica, não havia especialistas no sistema elétrico, com completa ausência de engenheiros elétricos, fazendo com que o sistema passasse a ser gerido por especialistas em engenharia civil nas empresas.
Seis meses se passaram da publicação daquele artigo, mas ninguém deu satisfação nem as autoridades tomaram qualquer atitude para ir em busca de respostas. E o apagão registrado na madrugada de segunda-feira parece também não tirar ninguém de sua zona de conformismo. Da mesma forma em relação ao que está ocorrendo nos municípios onde o sistema é isolado, a exemplo do Amajari.
Da maneira que a situação vem sendo encarada, igual em relação aos constantes apagões de internet, fica a impressão de que existem forças ocultas atuando para que tudo continue sem explicação, com o ônus para a população pagar, a qual segue sofrendo sérios transtornos e pagando por uma tarifa cada vez mais cara. Quem irá ao socorro da população?
*Colunista