Jessé Souza

Jesse Souza 15013

Quatro anos depois a caixinha mágica segue inviolável sob o conformismo de todos

Jessé Souza*

No sábado, dia 10 de dezembro, estará completando quatro anos de um momento muito triste de nossa história política, quando foi concretizada a  intervenção federal no Estado de Roraima, fato que representou a  confirmação oficial da falência do Estado. Foi também o atestado de óbito de um grupo político que não apenas traiu a confiança do povo, como também contribuiu para que chegássemos ao fundo do poço.

Os eleitores haviam depositado a confiança no grupo político de Neudo Campos, que já cumpria pena em prisão domiciliar, mesmo sabendo que iriam entregar o governo nas mãos de Suely Campos como governadora. Mas, jamais, as pessoas imaginariam que ela deixaria o Palácio Senador Hélio Campos pelas portas do fundo, com a Polícia Federal batendo à porta de seus familiares e ex-assessores com cargos importantes no Palácio Senador Hélio Campos.

Conforme mostraram as operações da Polícia Federal, ao investigar o filho da governadora, aliados políticos e assessores diretos que atuaram na Casa Civil e na Casa Militar, haviam fortíssimas suspeitas de desvio recursos da alimentação dos presos do sistema prisional e da merenda dos alunos da rede pública estadual.  

O desenrolar dos fatos agora fazem parte da história na política local, quando a população foi submetida ao pior governo de todos os tempos, o qual havia chegado com a missão de organizar a casa e salvar o Estado do caos. Mas, ao contrário,  ajudou a empurrá-lo ainda mais para o abismo.

O resultado desse catastrófico governo podia ser visto no rosto de cada cidadão naquele momento fatídico, com servidores com salários atrasados e as pessoas apreensivas com a incerteza do que reinava: presídios prontos para explodir, criminalidade insustentável, crime organizado se fortalecendo, órgãos públicos e polícias sucateados, pobreza avançando, hospitais e escolas em situação caótica.

Quem assumiu o governo como interventor federal foi o então recém-eleito governo Antonio Denarium, que surfou na onda bolsonarista como um não político e prometendo que iria abrir a caixa-preta do governo diante do quadro de terra arrasada que a administração foi deixada. Porém, não foi exatamente isso o que ocorreu.

A corrupção continuou reinando na saúde pública, fato este que levou o secretário de Saúde a se demitir logo nos primeiros meses de governo, com seguidos titulares da pasta repetindo o ato ou sendo exonerado sob suspeitas, inclusive um deles foi alvo da operação da PF no caso do dinheiro na cueca do senador.

Quatro anos depois, os fatos indicam que todos estão conformados com a caixa-preta preservada como se tivesse ocorrido algum pacto de sigilo, uma vez que os esquemas do passado mexem com muita gente graúda que seguiu a vida tranquilamente, só que desta vez com o crachá no peito de cidadãos de bem defendendo Deus, Pátria e a Família.

Não podemos esquecer que muitos que quebraram o governo na gestão anterior ficaram impunes, graças a leniência que se viu desde a intervenção federal, cuja expressão máxima foi a situação da saúde pública, onde os problemas ainda seguem até hoje, só que desta vez com ninguém se demitindo por insatisfação ou por pressão qualquer.

O povo engoliu essa estória de que está tudo bem. Mas a verdade é que todos ficaram bem calados, a começar pelo primeiro demissionário que escreveu com todas as letras que a corrupção era sistêmica na saúde pública. Não custa transcrever o que ele postou quando se demitiu:

– Enquanto forem permitidas empresas de deputados estaduais e federais e senadores vendendo serviços dentro da secretaria; enquanto for permitido uma cooperativa distribuindo plantões a quem não trabalha; enquanto forem permitidas famílias com poder político vendendo serviços dentro da secretaria; enquanto forem permitidos médicos concursados vendendo serviços para a secretaria; enquanto forem permitidos judicializar procedimentos para beneficiar um grupo de pessoas, haverá corrupção no governo.

E todos seguem bem caladinhos até hoje, com todo o segredo bem guardado na inviolável caixa-preta.

*Colunista