Jessé Souza

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Uma grande onda em curso, o desespero e a necessidade de uma reinvenção

Jessé Souza*

Quem acompanha a mídia televisiva, com seus canais de entretenimento e fofocas, e as redes sociais, com suas tempestades de compartilhamentos sem fim, com certeza soube da Farofa da Gkay, que nada mais é do que uma grande festa realizada desde 2017 para influenciadores, alguns artistas renomados escolhidos a dedos e as subcelebridades que saltitam das redes sociais de todos os nichos.

É a partir desse grande festival de permissividade e polêmicas de todos os tipos que saem as novas tendências e o caminho a seguir na internet com seus ícones de influenciadores de todos os tipos e gostos. E um fato que já vinha sendo observado por especialistas neste novo mundo acabou se confirmando: chegamos na Era do desespero para conseguir audiência e seguidores na internet.

A frase mais perfeita para este momento foi cunhada pelo colunista da UOL Guilherme Revanche: “Os influenciadores digitais não perderam a noção, apenas estão desesperados”. Neste desespero entram humoristas, youtubers e oportunistas na política partidária com seus canais em todas as redes sociais, especialmente no Youtuber.

Esse pessoal que não sabe mais o que fazer para manter audiência e conseguir segurar ou aumentar o número de seguidores, o que garante seus fartos rendimentos., acabou ligando o botão do “modo desespero” e passou a explorar tudo aquilo que pode chamar a atenção e garantir audiência, ainda que seja de uma maneira politicamente incorreta e até mesmo ferindo a lei.

Nessa Farofa da Gkay, o humorista Tirulipa, filho do deputado humorista Tiririca, reeleito deputado federal por São Paulo pela quarta vez,  arrancou a peça do biquini de uma influenciadora durante uma brincadeira. Para ela, assédio sexual por não ter permitido aquele tipo de “brincadeira”, ainda que dentro de um festival permissivo. Para ele, um humor sem limites dentro do desespero de buscar audiência.

O fato é que os humoristas há tempos buscam audiência até mesmo com o sofrimento de deficientes, machismo, assédio, estupro, pedofilia etc. Porque, embora politicamente incorreto e o cometimento de crimes, como o racismo, o que está valendo é a audiência, uma vez que existe um público ávido por normalizar tudo isso sob a bandeira da “democracia” e da “liberdade de expressão”.

Foi assim que influenciadores da política enxergaram no bolsonarismo um meio de ganhar dinheiro, se valendo da produção de mentiras (fake news), da falsa defesa da moral e dos bons costumes, do golpismo e do nacionalismo exacerbado para alimentar a mente daqueles suscetíveis a tudo isso, inclusive dos saudosos da ditadura, dos exploradores da fé, de nazistas e fascistas encubados ou não, dos adeptos de paranoias comunistas e dos adoradores de teoristas da conspiração.

Os influenciadores digitais fora da política têm noção de tudo isso, por isso estão correndo para todos os lados a fim de conseguirem seu nicho de absurdos para chamar a atenção, partindo para um desespero do qual não sabemos qual será o limite daqui para frente. Na Farofa da Gkay, a repercussão negativa  já ligou a luz vermelha de que será necessário um limite, pois os anunciantes não estão dispostos a bancar aquilo que tem audiência, mas provoca repulsa na sociedade.

As celebridades podem fazer o que quiser com sua fama e dinheiro, como comer carne temperada a ouro no Qatar, mas também precisam saber que acima de seus interesses e comportamentos pessoais existe uma responsabilidade, especialmente em um país de muitas injustiças sociais onde os fãs de futebol enfrentam severas dificuldades, inclusive muitos até passam fome.

Para estas celebridades mundiais, que vivem de uma paixão irracional alimentada por empresas milionárias, há uma vida longa ainda que com oportunidades afuniladas e bancadas por grandes marcas. Para celebridades e subcelebridades da internet, inclusive os da política que alimentam protestos em frente de quarteis (existe até youtuber político na cadeia por crime de pedofilia, após ser cassado como vereador em SP), o bonde já está passando.

No mundo das subcelebridades, o tempo urge. No fim de semana passado, em um quadro do programa televisivo dominical famoso, com a participação do influenciador Luva de Pedreiro, um menino pobre e analfabeto que virou celebridade, os jargões dele já não soaram mais como antes nos ouvidos de um público que entra em tédio muito rápido, mostrando apenas um pobre garoto rico que vai precisar se reinventar urgentemente.

Uma grande mudança está em curso nas redes sociais. Muitos dos famosos de hoje serão apenas um borrão do passado, como hoje lembramos da “eguinha pocotó” e do “na boquinha da garrafa”. Não adianta se reinventar usando o desespero, porque nem todo ouro que reluz na carne de churrasco pode ser bem aceito em um país das desigualdades extremas.

A onda de mudanças está em curso, e o desespero não é uma boa companheira neste momento…

*Colunista