Jessé Souza

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Uma única escola estadual no Cidade Satélite que empurra pais e mães para o critério da sorte

Jessé Souza*

A Educação é uma das bases para encarar de frente os sérios problemas sociais que pesam na vida de quem mora no bairro Cidade Satélite, na zona Oeste de Boa Vista, especialmente no Residencial Vila Jardim, que abriga 2.992 apartamentos, divididos em 121 condomínios, com uma população estimada em 15 mil pessoas.

Porém, a realidade mostra um grande desafio especialmente para crianças que saem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental; e para adolescentes que entram para o Ensino Médio. Embora haja um número até razoável de escolas municipais, só existe uma escola estadual para atender aquele bairro que mais tem crescido nos últimos anos por ser um dos poucos setores da cidade onde ainda há espaço geográfico para se expandir.

São dez unidades municipais de Educação Infantil, das quais cinco são casas-mãe, enquanto apenas uma unidade estadual militarizada, o Colégio Militar Estadual de Ensino Fundamental e Médio Irmã Maria Teresa Parodi, onde pais e mães precisam disputar vagas por meio de sorteio, uma vez que o Governo do Estado nunca se mostrou ágil o suficiente para construir mais escolas desde administrações passadas.

Como há uma demanda muito grande para um número limitado de vagas, as autoridades que lidam com a infância e adolescência precisam estar de olho no que está ocorrendo na forma de acesso à única escola estadual que atende aos moradores daquele importante setor da cidade muitas vezes esquecidos do poder público.

É o mínimo que se pode fazer no momento, já que nenhuma mágica poderá ser feita para construir uma nova escola até o início do próximo ano letivo. Se bem que, se houvesse vontade política, as autoridades poderiam fazer um paliativo, como reformar prédios abandonados que existem no bairro para que fossem transformadas em escolas provisórias. Mas isso seria exigir muito de governantes que não gostam de soluções rápidas.

O critério para conseguir uma vaga é o sorteio, mas o que se tem visto nos últimos anos são moradores de outros bairros das proximidades atendidos, deixando famílias que moram ao lado da escola na obrigação de matricular seus filhos em outros unidades distantes de casa, em uma injustiça creditada no critério da sorte, ou seja, dos sorteios que premiam também moradores de outros bairros.

Seriam necessários critérios básicos, como vagas garantidas para crianças que concluírem seus estudos nas unidades de Educação Infantil daquele bairro. Mas isso sequer é cogitado, pois há uma disputa alimentada pela politicalha entre governo e prefeitura. Ou ao menos que pudessem participar do sorteio somente moradores que comprovadamente tenham residência no bairro Cidade Satélite.

Da forma que o governo joga o acesso à única escola estadual ao fator sorte, muitas mães solteiras precisam se desdobrar entre suas jornadas de grandes dificuldades para conseguirem matricular suas crianças que saem do Ensino Infantil em escolas estaduais localizadas em bairros distantes, uma vez que nos bairros vizinhos também não é fácil conseguir vagas.

Em pior situação estão os moradores do vizinho bairro João de Barro, reconhecido pela legislação recentemente após anos considerado uma invasão alimentada igualmente pela politicalha. Portanto, somente agora as escolas poderão ser construídas e, enquanto o tempo não chega, pais e mães sofrem para disputar vagas nas escolas do Cidade Satélite e arredores.

Enquanto as autoridades batalham para combater a violência e os problemas sociais no Cidade Satélite, em especial no Vila Jardim, é necessário que alguém interceda na forma de acesso de crianças e adolescentes à única escola estadual. Afinal, são muitas crianças que podem ficar sem estudar pelo fato de pais e mães não conseguirem matricular seus filhos perto de casa.

É uma situação urgente. E o Ministério Público bem que poderia estar de olho nesta causa essencial para a Educação naquele setor da cidade.

*Colunista