Mega operação contra o garimpo ilegal precisa primeiro minar forças poderosas
Jessé Souza*
Não será fácil executar a grande operação que está sendo articulada pela equipe de transição do novo governo, a ser deflagrada logo no início do próximo ano, conforme anunciou o secretário de Segurança Pública de Roraima, coronel Edison Prola, após ter participado de uma reunião em Brasília com os articuladores do Governo Lula (PT) e dado ampla publicidade aos planos.
Se já é difícil manter uma operação permanente para combater o garimpo ilegal, não se trata apenas de colocar forças policiais e ambientais caçando garimpeiros e queimando maquinários de mineração dentro da Terra Indígena Yanomami. A operação precisa primeiro minar todas as forças empresariais e políticas que dão sustentação ao garimpo ilegal em Roraima e outros estados.
São forças muito poderosas agindo não apenas no apoio logístico e no financiamento, conforme vem mostrando as seguidas operações da Polícia Federal, mas também com amplo trânsito e poder político. Conforme já relatou esta coluna, durante uma das operações policiais, no atual governo, uma autoridade estadual muito influente, à época, por pouco não foi flagrada em uma pista de pouso de aeronave que dava apoio ao garimpo ilegal, conseguindo evadir-se ao ter sido avisado.
Para se ter mais uma ideia desse poderio econômico e político, forças poderosas de tudo fizeram para que leis estaduais fossem aprovadas a fim de liberar o garimpo no Estado e para beneficiar empresários de garimpo ilegal que por ventura fossem pegos em operações policiais para que não perdessem seus equipamentos. Sabedores dessa grande operação, forças já estão agindo.
Além da necessidade de minar esse forte poderio, cortando o oxigênio que alimenta o garimpo ilegal, como já vem fazendo a PF por meio de suas seguidas operações, há o desafio de desarticular outro crime tão forte quanto organizado, imposto por facções criminosas que se apoderaram de parte da frente de garimpos, exibindo seu poderio por meio de milícias fortemente armadas dentro da terra indígena e impondo o comércio do tráfico de drogas.
Esse poderio também passeia com influência por alguns setores da sociedade, a ponto de haver políticos em Boa Vista sob investigação diante de fortíssimas suspeitas de ligação com o crime organizado, fatos estes de amplo conhecimento da opinião pública após a publicação de matérias jornalísticas na imprensa local.
Então, há uma série de fatores a serem observados para que o novo governo possa obter êxito no enfrentamento ao garimpo ilegal, até porque essa atividade foi instrumentalizada pelo atual governo, que usou de todas as suas forças políticas dentro do Congresso, e fora dele, para viabilizar não apenas a garimpagem em terras indígenas, mas atividades altamente agressoras ao meio ambiente em áreas protegidas.
Os fortes poderes locais e regionais já começaram a agir…
*Colunista