Jessé Souza

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Golpes de facão e a insegurança pública que reina nas localidades mais distantes do interior

Jessé Souza*

O caso de dois policiais militares atacados a facão dentro do alojamento da guarnição, no Município do Cantá, no dia 16 passado, representa a situação em que se encontra a segurança pública na maioria dos municípios do interior de Roraima, onde os PMs atuam com força mínima, com condições básicas apenas para que a população não fique largada à própria sorte.

Na maioria dessas localidades, o PM passa a atuar não apenas como agente de segurança de policiamento ostensivo, mas também como um xerife à moda antiga dos filmes de faroestes norte-americanos, em que ele também acaba atuando até mesmo como juiz para que diversas situações do cotidiano não fujam do controle e desemboquem em um crime ou delito.

Praticamente sozinhos, onde os policiais acabam se sentindo autoridades máximas, ficando vulneráveis a quaisquer situações que por ventura saiam do controle, como acabou ocorrendo no Cantá, onde o caso tem todas as características de uma represália do acusado a um dos policiais (já que não houve mais informações precisas do caso).

No Município do Amajari, onde não há uma Delegacia da Polícia Civil, os PMs fazem de tudo para que as ocorrências sejam evitadas, pois, caso contrário, será necessário levar todos os envolvidos até a Delegacia de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, onde é necessário percorrer até 200Km, como é o caso de quem mora na Serra do Tepequém.

O fato é que todos os municípios distantes da Capital estão vulneráveis a  ação de bandidos, caso queiram praticar assaltos organizados a comércios e postos bancários, por exemplo. As guarnições mantidas nessas localidades acabam representando apenas uma sensação de que há o mínimo de segurança e ordem pública.

Enquanto faltam estrutura e efetivo para fortalecer a segurança nas mais longínquas localidades, sobram policiais deputados e uma corriola de policiais à disposição de outros poderes, além dos que ficam encostados na Casa Militar ou servindo de segurança particular para autoridades.

O caso do jornalista sequestrado e torturado por um grupo de policiais militares à disposição da Assembleia Legislativa, em outubro de 2020, é o indicativo mais fiel desse problema, ocasionado pela ociosidade de suas funções garantidas por essa cessão de agentes públicos aos gabinetes refrigerados.

O fato é que o governo sequer consegue organizar as forças policiais na Capital, onde se concentra quase 70% da população, agindo de acordo com as conveniências políticas e demandas mais urgentes. Recentemente, esta coluna relatou a situação de insegurança no bairro João de Barro, onde os bandidos disfarçados de entregador estavam agindo.

Logo depois, a polícia fez uma operação naquela localidade, realizando prisões de bandidos e apreensões de motos roubadas, mostrando que tudo só depende de vontade política para fazer acontecer. No Residencial Vila Jardim, no vizinho bairro Cidade Satélite, quando a polícia realmente decidiu agir a realidade mudou para melhor, reduzindo bruscamente a insegurança.

Já existem rumores de que haverá mudança na condução da Polícia Militar. Mas é possível antecipar que decisões desse tipo são apenas placebos, pois os problemas que existem são históricos e enraizados na politicalha. Porque quando surge alguém realmente operacional, decidido a fazer a diferença porque conhece a realidade,  começando a mexer nas feridas do sistema, esse alguém é encurralado até pedir para sair.

A Segurança Pública tem servido apenas como um grande reduto eleitoral, enquanto ao povo restam as mazelas, especialmente para aqueles que moram na periferia ou nas mais distantes localidades. Vão esperar acontecer o pior para que comecem a mudar esta realidade. Daqui a pouco vão esquecer até a agressão a facão que os PMs sofreram dentro de seu alojamento.

*Colunista