Jessé Souza

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Do voo macabro às fortes suspeitas de envolvimento promíscuo com a ilegalidade

Jessé Souza*

Antes de quaisquer ilações ou conclusões apressadas, é preciso frisar que as instituições precisam sempre ser preservadas em favor do bem coletivo e não podem ser responsabilizadas por ações erradas ou omissões de quem as comandam ou as integram. Dentro deste contexto, apesar do comportamento errado de alguns militares nestes últimos anos, as Forças Armadas têm o imprescindível e fundamental papel de manter o Brasil no caminho certo.

Ao não apoiarem qualquer tipo de golpe, as Forças Armadas como instituição cumpriram com o seu papel. No entanto, os mais recentes escândalos que pipocam junto com a crise do povo Yanomami indicam um vergonhoso e criminoso conluio de alguns militares do Exército e da Força Aérea Brasileira (FAB) com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, cujas denúncias chegaram até as mãos do Supremo Tribunal Federal (STF).

Para o bem do país e da instituição FFAA, isto precisa ser passado a limpo. O caso está com o ministro Luís Roberto Barroso, tramitando sob sigilo, que já determinou à Procuradoria-Geral da República (PGR), ao Ministério Público Militar, ao Ministério da Justiça e à Superintendência da Polícia Federal em Roraima que investiguem a prática de genocídio e outros crimes praticados contra o povo Yanomami no governo anterior, com militares na lista dos investigados.

Assim que o governo Bolsonaro assumiu, em 2019, a Operação Ágata da Polícia Federal já apontava uma relação promíscua de militares com os garimpeiros, incluindo familiares de militares atuando no garimpo ilegal na Terra Yanomami. Conforme a denúncia, que chegou inclusive ao conhecimento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), militares teriam sido comprados por garimpeiros para fazerem vistas grossas e também avisarem sobre as operações policiais.

Militares receberiam propina para repassar informações por meio de um grupo de WhatsApp, pelo qual eram enviados fotos e vídeos das tropas com informação do itinerário que eles iriam atuar nas operações, o que permitia aos garimpeiros fugirem dos acampamentos na terra indígena e escondessem na floresta densa o máximo que pudessem de equipamentos, máquinas e veículos usados na extração ilegal de ouro.

As denúncias que chegaram ao ministro Barroso vão mais além e apontam ainda situações tão suspeitas quanto gravíssimas dentro da FAB, como alteração de planejamento de operações que permitiu alertar os garimpeiros, além do cancelamento da participação das Forças Armadas em uma operação conjunta com a PF a três dias da data agendada.

Outro fato gravíssimo relatado na denúncia é o de que a Força Aérea teria deixado de realizar interceptação de aviões do garimpo ilegal, o que quase teria provocado uma tragédia diante do risco de colisão destas aeronaves clandestinas com voo comercial. Enquanto isso, a FAB informou à imprensa local ter interceptado 34 aeronaves no ano passado.

Não menos grave foi a denúncia do desaparecimento de 29 aeronaves apreendidas pela PF, por estarem dando apoio ao garimpo ilegal, que estavam no depósito para serem destruídas por ordem judicial. No entanto, posteriormente estes aviões foram flagrados novamente atuando no garimpo ilegal dentro da terra indígena. Um verdadeiro absurdo que precisa vir à luz do dia das investigações.

Diante destes fatos, só agora é possível começar a compreender o caso do “voo macabro” de um helicóptero venezuelano, sem identificação, que invadiu o espaço aéreo brasileiro,  em agosto do ano passado, para transportar os corpos de cinco garimpeiros brasileiros assassinados em um garimpo na Venezuela, sem que tenha alarmado as autoridades civis e militares brasileiras. Tudo foi abafado pelo governo brasileiro e as FFAA.

Para se ter a ideia da violação do território brasileiro, com explícita ameaça à soberania, a aeronave recolheu os corpos em decomposição içados numa grande cesta acoplada, os quais estavam em um garimpo venezuelano, e foram deixados em outra área de garimpo ilegal no Município de Iracema, aos arredores da Terra Yanomami, a 100Km da Capital, para que fossem recolhidos pelas autoridades brasileiras.

Os fatos sugerem realmente um grande conluio em favor do garimpo ilegal, o que será confirmado ou não pelas investigações solicitadas pelo STF, cujo processo tem o dever de incluir autoridades locais, que não só deram declarações estapafúrdias, como a Assembleia Legislativa aprovou e o governador sancionou uma lei para permitiu o garimpo, com uso de mercúrio, no entorno de terras indígenas.

Além disso, também aprovaram outra lei que impede que autoridades estaduais fiscalizem e destruam equipamentos, veículos e maquinários apreendidos com garimpeiros. E mais: caso apreendidos, os agentes estaduais devem devolvê-los a título de fiéis depositários até a conclusão final do inquérito.

O momento de passar tudo isso a limpo parece que chegou, para que as instituições expurguem tudo aquilo que não convém, para o bem do Brasil e do seu povo, especialmente os povos indígenas!

*Colunista