Jessé Souza

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Em 2022, Roraima registrou 221 bebês mortos e, este ano, 28 recém-nascidos morreram só em janeiro

Jessé Souza*

Desde outubro de 1996, quando 32 bebês morreram em 20 dias no berçário da única maternidade pública do Estado, a situação da infância roraimense nunca esteve em grande risco quanto agora, nestes primeiros dias de 2023, quando as mães seguem dando à luz em uma maternidade funcionando de maneira improvisada em um local coberto de lona, onde antes funcionava o Hospital de Campanha para atender emergencialmente pacientes da pandemia de Covid-19.

Dados só consolidados pelos setores estatísticos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) na semana passada, os quais ainda não foram divulgados oficialmente, confirmam que em janeiro deste ano morreram 28 bebês no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, que está funcionando debaixo de tendas desde junho de 2021, há cerca de um ano e sete meses. Desse total, 11 foram óbitos fetais e 17 óbitos neonatais. O alerta já foi dado em artigo anterior.

Esta Coluna teve acesso às estatísticas, cujos números da mortalidade infantil são alarmantes. As 28 mortes só em janeiro de 2023, quando foram realizados 890 partos, refletem a grave situação que se arrasta desde o ano passado. Ainda não se sabe o número de mortes na primeira quinzena de fevereiro. As estatísticas de 2022 já revelavam dados preocupantes da infância roraimense no que se refere a mortes de bebês antes de completar um ano de idade.

Conforme os números compilados pelo Núcleo do Sistema de Informação e Vigilância do Óbito (NSIVO) do Departamento de Vigilância Epidemiológica (DVE), subordinado à Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) da Sesau, no ano de 2022 morreram 221 crianças antes de completar um ano de idade. Ou seja, foi quase um bebê morrendo por dia em Roraima.

Do total destas 221 mortes, 73 foram de Neonatal Precoce (menos de 1h de nascido até 6 dias), 41 de Neonatal Tardia (de 7 a 27 dias) e 107 de Pós-Neonatal (28 dias até menos de 1 ano de nascido), o que dá uma média de 1,6 óbito por dia durante todo o ano passado (Fonte: SIM/TABWIN/NSIS/DVE/CGVS/SESAU/RR). Lembrando que foi ano eleitoral quando o teto da maternidade desabou sobre as pacientes durante as chuvas, em cenas desesperadoras de vídeos que mostraram mães em busca de abrigo pelos corredores.

Os números das tabelas do SIM/TABWIN/NSIS/DVE/CGVS/SESAU/RR ainda apontam mais dados preocupantes referentes à mortalidade materna. Foram 19 mortes de mães durante o ano de 2022 de diversas causas, cujos casos mais comuns foram: aborto retido (5 casos), doenças virais (3), doença infantil parasitária (2), além de hemorragia, complicação de trabalho de parto, doença protozoária e outras complicações.

Como os números não mentem, estamos diante de uma grave situação que requer medidas imediatas dos órgãos fiscalizadores, especialmente do Ministério Público de Roraima, cuja Promotoria de Saúde Pública já deveria ter tomado alguma providência desde o ano passado, quando uma criança por dia estava morrendo no Estado, enquanto a única maternidade funciona de maneira improvisada debaixo de lona, uma vez que o prédio do Hospital Materno Infantil passa por uma reforma morosa.

Denúncias não faltaram na imprensa e nas redes sociais, mediante o silêncio da Sesau e de outras autoridades que se omitem, enquanto as atenções da mídia e da opinião pública estão voltadas para a tragédia na Terra Yanomami, onde as crianças indígenas vêm sendo dizimadas. A morte ronda a infância não apenas no isolamento da floresta amazônica, mas aos olhos de todos, na Capital, onde maternidade debaixo de tenda se tornou algo banal. E no silêncio de todos.

*Colunista