Jessé Souza

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Um mimo a empresário e a realidade das escolas na Capital e interior

Jessé Souza*

Em um Estado com o mínimo de oposição séria, este caso não passaria em brancas nuvens: o governador Antonio Denarium (PP) divulgou em seus perfis, nas redes sociais, que foi pessoalmente à residência de um grande produtor de peixes entregar ao empresário o título definitivo da terra pública; e o detalhe é que o ato ocorreu fora do horário de expediente. É como se o poder público existisse para beneficiar amigos empresários, enquanto pequenos produtores há décadas aguardam a regularização de suas propriedades.

No mesmo momento em que se pratica um mimo a um empresário, ato que até pode se configurar irregular, as escolas e hospitais públicos em situação crítica não recebem sequer uma visita de consolo. Na rede estadual de ensino, tanto na Capital quanto no interior e comunidades indígenas, há quatro anos as aulas sequer foram normalizadas. Nas escolas indígenas, foi necessário fazer um seletivo às pressas porque o governo não teve como prioridade resolver a crônica falta de professores.

Um exemplo é a Escola Estadual Indígena Riachuelo, na Comunidade Sucuba, no Município de Alto Alegre, onde faltam 16 professores e não há condições mínimas para iniciar o ano letivo, pois são apenas 6 professores efetivos para uma unidade com Ensino Fundamental 1 e 2, além do Ensino Médio. São várias outras em situação semelhante, e isso sem contar com aquelas que irão continuar de forma remota porque não existem condições de aulas presenciais.

Esta triste e vergonhosa realidade não é exclusividade do interior e comunidades indígenas. Na Capital, onde estão os olhos das autoridades, desde sempre tem faltado professores, principalmente de Matemática e Física, disciplinas essenciais cobradas no Vestibular, revelando o grande fosso que está sendo construído na educação da atual geração, que deverá apresentar sérios reflexos no futuro do Estado de Roraima.

Para não retroagir ao tempo da pandemia de Covid-19, usado como justificativa pelos gestores, no ano passado houve escolas que não ofertaram Física por falta de professor. Na Escola Estadual Olavo Brasil, no bairro Jóquei Clube, foi pior, pois desde a metade de 2022 não teve mais professores de Matemática e Física. O ano letivo deste ano começou sem professores de Filosofia e Sociologia, problema que foi resolvido nesta segunda-feira. No entanto, aquela escola as aulas seguem sem professores de Matemática e Física.

Diante da falta de professores, para que os alunos pudessem passar de ano, em 2022, a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) enviou para a Escola Olavo Brasil uma comissão de técnicos educacionais para aplicar trabalhos a fim de garantir as notas dos 3º e 4º bimestres. Um remendo usado nas demais escolas onde não havia professores de determinadas disciplinas ou que não tiveram condições de dar início ao ano letivo por qualquer outro motivo.

Os problemas vão além da crônica falta de professores. Na segunda-feira passada, pais, estudantes e professores da Escola Estadual Indígena José Viriato, na Comunidade Raposa I, no Município de Normandia, realizaram um protesto contra as precárias condições da estrutura física daquela unidade de ensino, onde os 375 alunos estudam em um prédio que há 25 anos não recebe qualquer obra de manutenção, por isso está caindo aos pedaços.

A realidade de alunos e professores da Comunidade Morcego é bem pior, pois lá a escola funciona em uma estrutura improvisada, um barracão de madeira coberta de palha, o que obrigou os pais a jogarem uma lona por cima do teto para evitar que as crianças e professores se molhem em dias de chuva e se protejam do sol. Um escárnio com a educação estadual.

Por este cenário apresentado acima é possível ter noção da prioridade deste governo, que se mobiliza para entregar um título definitivo a um único grande empresário produtor de peixe, que não se deu ao trabalho sequer de sair de casa, enquanto a Educação segue com os graves problemas mesmo após quatro anos de governo.

Os reflexos dessa realidade desoladora na Educação serão sentidos por muitos anos à frente, com sérios prejuízos ao desenvolvimento do Estado, com alunos da rede pública em flagrante desvantagem em relação ao ensino privado, cujas famílias têm condições de pagar uma escola para os seus filhos, os quais saem em larga vantagem para disputar o Vestibular e, por conseguinte, uma vaga no mercado de trabalho.

*Colunista