Jessé Souza

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Esquemas do passado e os problemas vivenciados na atualidade pela população

Jessé Souza*

Se houvesse um estudo que pudesse comparar os principais casos de corrupção nos últimos anos, no Estado, com os atuais problemas enfrentados pela população roraimense, na atualidade, com certeza seria apontado uma relação direta das operações policiais mais recentes realizadas pela Polícia Federal com os graves problemas enfrentados hoje, especialmente na Saúde e na Educação. Aos fatos…

Ainda no governo anterior a esse, que terminou de forma melancólica com operações policiais e intervenção federal, em 2018, a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram a Operação Zaragata para investigar um grupo acusado de desviar recursos públicos do transporte escolar em Roraima. Foi no apagar das luzes daquele governo e que levou uma deputada eleita para a cadeia, a qual foi diplomada e assumiu o mandato com uma tornozeleira.

Só para se ter uma ideia dos fatos, naquela época a CGU apontou que, em apenas um contrato daquele ano, no valor de quase R$80 milhões, as investigações apontavam que os pagamentos indevidos poderiam chegar a  R$ 50 milhões. Frisa-se: isso em apenas um dos contratos! E os reflexos ecoam até hoje, pois nos últimos quatro anos do atual governo a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) nunca conseguiu regularizar a situação dos transporte escolar.

Além da suspeita de propina, as investigações apontam que eram feitos pagamentos a empresas por rotas não cumpridas, ou seja, o governo pagou por serviços que não recebeu. E esse parece ser um modus operandi dos esquemas, conforme o artigo de ontem, que tratou do caso investigado pelo Ministério Público de Roraima sobre materiais didáticos pagos e não recebidos pela Seed.

Na Saúde, foi exatamente assim no caso dos respiradores pagos e não recebidos, em maio de 2020. Naquela pasta, as denúncias foram mais recorrentes, cujo caso que ficou nacionalmente conhecido foi a operação da PF que culminou com o caso do dinheiro na cueca, em outubro de 2020. Em 2019, o primeiro secretário de Saúde do atual governo se demitiu denunciando um grande esquema de corrupção sistêmica na pasta.

No entanto, os sinais do grande esquema vinham sendo dados desde a década de 1990, quando a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) foi transformada em comitê eleitoral e, mais recentemente, em 2017, no governo antecessor a esse, quando um médico hoje parlamentar negociou a pasta, “com porteira fechada e tudo”, para garantir a candidatura a reeleição da governadora da época.

Aliás, a Seed também sempre vem usada como moeda eleitoral, a ponto de a secretária de Educação ter sido a coordenadora da campanha eleitoral do governador da época, na década de 1990.  A cada eleição para governador, a Seed e a Sesau sempre entraram na negociação com aliados. E não por coincidência essas duas pastas sempre estão na disputa pela troca de titulares, como tem ocorrido desde tempos passados.

Então, tudo o que tem ocorrido de problemas nos principais setores do governo, principalmente nas áreas essenciais que recebem transferências garantidas constitucionalmente,   como Saúde e Educação, é resultado dos esquemas montados desde o início do Estado, quando a politicalha se apoderou dos seguidos governos, na base do toma-lá-dá-cá da velha política. Mudam-se os governos, mas se mantém os operadores desses esquemas.

Não à toa que existem parlamentares que montaram verdadeiros feudos, mantidos por seguidas reeleições, reproduzindo as práticas nefastas para a sociedade, cuja culpa precisa ser dividida também com quem é punido por causa dos esquemas: o eleitor vendilhão, o mesmo cuja família sofre na hora buscar atendimento médico na rede pública e ao matricular o filha na escola pública.

E ainda há muita coisa a ser esclarecida, pois denúncias pipocaram principalmente no mais recente ano eleitoral e, nos últimos meses, tem-se observado a constante movimentação de empresas manauras nas licitações públicas, inclusive que “patrocinam” blogs, sites e veículos de comunicação, responsáveis por fazer pressões políticas implícita ou explicitamente em favor de interesses de grupos ou dos próprios.   

 *Colunista