Polícia na escola é um placebo, pois não há sequer viatura para atender a população
Jessé Souza*
Diante do clamor social em todo o país a respeito do ataque a escolas, era necessário que as autoridades tomassem medidas rápidas para dar uma resposta à sociedade. E isso ocorreu. Em Roraima, parlamentares apontaram logo como saída colocar policiais dentro da escola, algo que já foi feito nos Estados Unidos, mas uma decisão que vem não apenas fracassando como também criando novos problemas para a comunidade estudantil.
O Governo de Roraima apressou-se em lançar a Operação Escola Segura, nesta segunda-feira, 10, com a Polícia Militar ganhando nova atribuição de reforçar a segurança nas escolas das redes pública estadual e privada em Boa Vista e nos demais 14 municípios do interior do Estado. De fato, algo precisava ser feito de forma imediata para tentar acalmar o pânico que tomou conta das famílias. No entanto, essa operação não se sustenta diante da realidade dos fatos.
Não se trata de pessimismo. Nem de torcer contra. Absolutamente não. É até louvável que algo fosse feito de imediato. Porém, o problema é mais complexo, pois não se trata apenas de vigiar que um maluco invada os muros da escola, tratando a questão de fora para dentro, pois existem os problemas igualmente sérios que estão ocorrendo dentro das salas de aula e intramuro dos estabelecimentos de ensino. E isso não se revolve com polícia na frente do prédio ou mesmo dentro dele.
A começar pela questão de que a PM não tem condições de ter mais essa atribuição de ficar na frente das escolas ou dentro delas, pois não existe estrutura nem efetivo suficientes para isso, a não ser que a instituição pare com suas atividades rotineiras, o que irá provocar um sério desfalque no policiamento ostensivo, o qual é mantido a muito custo e de forma não satisfatória.
A grave deficiência pode ser constatada a qualquer momento. Basta precisar de uma viatura para atender uma ocorrência, quando o cidadão fatalmente irá descobrir a demora ou mesmo a resposta de que não há viatura naquele momento. Uma resposta padrão que não é de hoje nem específica deste ou daquele governo. É uma realidade brasileira, a qual estamos enfadados de saber.
Além disso, Roraima é o Estado do “já teve”. Aqui já teve a Polícia Comunitária com a Ciclo Patrulha que fazia esse trabalho de proteger as escolas. No entanto, foi apenas mais uma engabelação governamental, cuja ação caiu no esquecimento rapidinho. Afinal, quando a polícia começa a trabalhar para a população, faltam policiais para os gabinetes parlamentares e de outros órgãos, os quais ficam apinhados de policiais servindo de segurança particular das autoridades. E as autoridades dão logo um jeito de voltar ao que era, ou seja, poucos policiais nas ruas e uma centena à disposição de gabinetes refrigerados.
Significa que, assim que o assunto for esquecido pela sociedade, essa operação de porta de escola cairá no esquecimento, voltando à mesma realidade de outrora, com o governo tendo anunciado mais um placebo, e todos se esquecendo que a escola continuará com seus problemas e desafios, tendo que dividir suas atribuições de transmissora de conhecimento com outras obrigações renunciadas pelos pais e negligenciada pelos governos.
Esse grande problema não se resolve com polícia, necessariamente, mas com grandes investimentos em uma educação de verdade, que passa não apenas por mais recursos e valorização profissional, mas com escolas com gestões democráticas e participativas, que inclua os próprios alunos nas discussões e soluções de problemas. Mas isso é assunto para o próximo artigo.
O fato é que o governo não cumpre sequer com o básico, escanteando uma educação inclusiva, crítica e democrática construída pelo diálogo. Afinal, as escolas se tornaram comitês eleitorais, com diretores (gestores) indicados por políticos que nada mais do que cabos eleitorais. Não tem como esse modelo dá certo, especialmente numa sociedade que passou a negar a ciência, a criminalizar os professores e abominar a Educação.
Definitivamente, polícia na porta de escola é apenas uma engabelação governamental, embora necessário neste exato momento a fim de transmitir uma falsa sensação de segurança para acalmar a sociedade. Daqui a pouco, a PM continuará com sua missão de enxugar gelo, sequer tendo viaturas para atender um chamado da população. E o ciclo de abandono da escola reiniciará.
*Colunista