Jessé Souza

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A audiência pública de horror e a situação de ataques a escolas públicas

Jessé Souza*

O “espetáculo do horror” protagonizado na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, na audiência de terça-feira, 11, com o ministro da Justiça, Flávio Dino, traz uma importante leitura sobre a atualidade em que as escolas estão sob ataque. O cenário foi de uma grande confusão, com ameaças de violência, xingamentos e gritos em troca de insultos entre deputados federais, o que reflete diretamente a política de ódio e intolerância que se apossou do discurso da extrema-direita no Brasil e no mundo.

Assim como os ataques a escolas públicas e privadas não são um fenômeno necessariamente novo, o discurso extremista vem sendo construído de longas datas, aos poucos, em que a internet com suas permissivas redes sociais foi o passo definitivo para ampliar o que antes ficava a grupos isolados, como seitas ocultas em seus guetos. Agora surgiu uma perigosa conexão agindo pelo mundo todo, com células em vários países, a exemplo do Brasil, conforme vêm apontando as investigações policiais.

A massificação dos discursos de ódio começou a se enraizar também na política, dando uma nova conotação de permissividade, cuja realidade afetou principalmente aqueles mais vulneráveis, crianças, adolescentes e jovens com suas personalidades em formação, especialmente os adolescentes que estão em uma fase delicada da vida, cheios de impulsividade e oposição a tudo que ele acha que os oprime, a ponto de terem sido chamados, no passado, de “rebeldes sem causa” ou “geração perdida”, termos emprestados de gerações anteriores.

Com o discurso extremista na ordem do dia, em que as escolas, a Educação e os professores são alvos preferenciais dessa desconstrução, juntaram-se a pólvora do ódio e o pavio curto da rebeldia de adolescentes, os quais são os mais vulneráveis a este discurso e ideologias de extrema-direita, com enaltecimento de armas de fogo, ataques a mulheres, homossexuais, negros, nordestinos e indígenas, além de outras minorias. E ainda tem a realidade dentro de sala de aula, com bullying e a negligência das famílias.

Então, além da realidade vivida dentro da escola, a qual é reprodução de dentro  de casa e do convívio familiar, ou do círculo de contatos de internet, tem a realidade de fora para dentro, em que surgiram os extremistas que enxergam a escola como alvo principal do ódio alimentado pelo discurso de políticos da extrema-direita, inclusive com movimentos que invadiam as escolas, sob a desculpa de fiscalizar, que tinham o principal objetivo de gravar vídeos com ataques a professores e ao sistema educacional.

Logo, o enfrentamento a essa onda de violência contra escolas não é somente um caso de polícia, cuja ação não deve se resumir a fazer rondas. Além da segurança em frente de escola, é imprescindível trabalhar com inteligência para monitorar a internet em busca de denúncias e da movimentação de grupos neonazistas ou de adolescentes municiados de ódio pelos motivos acima expostos, seja para revidar a bullying ou externar a ideologia a qual ele foi cooptado.

Enquanto isso, a escola precisa ser tratada com dignidade e respeito por uma política séria, que vai da valorização dos profissionais a inclusão dos estudantes, com as autoridades assumindo suas responsabilidades, pois elas fingem que tudo isso que está ocorrendo não é com elas, quando existem Comissão de Educação nos legislativos e Promotoria de Educação no Ministério Público, só para citar dois exemplos.

Também é necessária uma política educacional de verdade, não essa em que Educação se transforma em moeda eleitoral. E sim uma reformulação geral em que possa haver, dentro das escolas, mediação de conflitos, cultura de paz, comunicação não violenta, incentivo à afetividade, grupos de ajuda formados por estudantes, gestão democrática, incentivo para que alunos não sejam indiferentes ao bullying, ações cooperativas e educação para direitos humanos.

No entanto, tudo isso é tachado como “coisa de esquerdistas” ou de “comunistas” pelo discurso extremista, discurso esse alimentado como parte da ideologia que visa implantar a cultura do ódio baseada na política armamentista e de negação de direitos a minorias. E isso pôde ser sentido de forma bem enfática na audiência de terça-feira, na Câmara dos Deputados. Então, o problema é bem mais complexo e passa também pelo combate a essa política extremista instalada no Brasil.

*Colunista