Ideias mirabolantes para uma fachada que encobrirá a realidade das escolas
Jessé Souza*
Duas matérias publicadas na edição de ontem resumem muito bem a realidade das escolas roraimenses frente aos desafios diante das ameaças de ataques. Uma delas expõe a situação da Escola Estadual Mário David Andreazza, no bairro Caimbé, que já foi tema duas vezes desta Coluna, por ter sido fechada no início da pandemia, em 2020, e nunca mais reabriu as portas por estar com o prédio prestes a desabar. Até hoje, por lá, as aulas passaram a funcionar por meio da “pedagogia do WhatsApp”, por onde são aplicadas as provas.
A outra matéria diz respeito à Escola Estadual Militarizada Professor Severino Gonçalo Gomes Cavalcante, no bairro Dr. Sílvio Botelho, que está infestada de pombos e com a estrutura do segundo andar com rachaduras, o que indica riscos de desabamento, algo que somente uma vistoria poderia confirmar. E foi lá onde um aluno sofreu um grave acidente, recentemente, expondo ainda mais a frágil situação daquela unidade.
Enquanto essas duas matérias espelham a situação da educação pública roraimense, com escolas que não conseguem oferecer o mínimo de estrutura para uma educação digna, os políticos fazem média, sugerindo como solução para a violência a instalação de portas giratórias com detector de metal e de câmeras de segurança, bem como contratação de empresa de segurança para atuar dentro dos prédios ou a permanência de policiais militares.
Como pensar em garantir um sistema de segurança digno de uma estrutura de primeiro mundo se as escolas estão aos frangalhos? Como o governo irá encontrar recursos orçamentários para contratar empresas de segurança, se não consegue instalar laboratório de informática nem garantir papel e tinta para imprimir provas e materiais pedagógicos para alunos? Como ter uma porta giratória brilhando, pronta para apitar ao primeiro metal, se o prédio está prestes a ruir sobre a cabeça de alunos e professores?
Como os políticos com suas empresas ganham dinheiro em cima das demandas do governo, é bem provável que logo surja orçamento emergencial para contratar empresas para fazer vigilância armada, instalar portas giratórias e cercas elétricas no muro das escolas estaduais da Capital e interior. Aí teríamos prédios remendados ou caindo aos pedaços, faltando materiais mais básicos e sem professores, com uma fachada de primeiro mundo de fazer inveja a bancos privados.
Então, as escolas iriam se parecer com presídios, com seus muros altos com concertina e cerca elétrica, portas giratórias e seguranças armados na recepção, enquanto o restante do prédio da escola seguirá como as alas sombrias das penitenciárias: salas superlotadas, faltando manutenção básica e com o teto caindo, sem estrutura mínima e com professores desesperados e mal remunerados.
A escola, então, se tornaria uma ilha em si mesma, amedrontada, acovardada e desorientada, como se fosse um presídio invertido, em que os estudantes e professores irão ficar presos durante o dia letivo, enquanto os extremistas e outros bandidos seguem por aí, do lado de fora, em qualquer lugar, desta vez planejando um ataque não mais lá dentro da escola, mas na hora da saída…
*Colunista
** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV