Sistema de videomonitoramento, uma mentira de 15 anos que hoje faz falta
Jessé Souza*
O Estado de Roraima há muito tempo era para ser um exemplo para o país em termos de garantia de segurança para a população, especialmente na Capital. Toda a cidade de Boa Vista, com suas respectivas saídas e entradas pelas rodovias, era para estar sendo vigiada por um eficiente sistema de monitoramento por vídeo, com garantia substancial de segurança para as escolas públicas. No entanto, os seguidos desgovernos com seus esquemas de corrupção corroeram como se fossem cupins de cofres públicos.
Tal fato não é nenhuma novidade para quem acompanha esta Coluna desde aquela época. No dia 16/05/2022, o descaso com a segurança foi lembrado por meio do artigo intitulado “O sistema de videomonitoramento que entrou para a lista das mentiras institucionais”, o qual expos a retumbante mentira institucional na qual se tornou o projeto de monitoramento por câmeras anunciado, em 2008, como instrumento de combate à criminalidade, pelo Governo do Estado.
Ou seja, há 15 anos a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) anunciou que seria instalado o sistema de videomonitoramento com toda estrutura que permitiria compartilhar as imagens com as instituições de segurança visando auxiliar na identificação de criminosos e contribuir com o trabalho investigativo da polícia. Em tempos de ameaças a escolas, Roraima era para estar servindo de exemplo, já que a geografia e o tamanho da cidade permitem um serviço exemplar de monitoramento por vídeo.
E foi exatamente isso que o prefeito de Boa Vista, Arthur Henrique, anunciou na sexta-feira passada: a instalação de um sistema de monitoramento por câmeras nas 126 escolas municipais na Capital, como parte das ações para prevenir a onda de ataques e ameaças a escolas. E com um detalhe importante: os gestores escolares receberam um “botão de pânico”, dispositivo com o qual eles poderão fazer comunicação direta com a central de monitoramento da Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito (SMST).
Era para o Estado todo ter um sistema desse há muito tempo, pois em 2008 a Sesp anunciou que até dezembro de 2013 a Capital estaria com o sistema completo, inclusive com a montagem de uma sala de monitoramento no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) com a interligação entre as câmeras, as quais inclusive seriam instaladas nas principais avenidas, praças e parques nos bairros da periferia da cidade.
Um projeto brilhante, caso não tivesse se tornado mais uma mentira dos políticos. Inclusive, em 2015, o governo estadual voltou a anunciar um projeto de restabelecimento do programa de videomonitoramento. Mas o tempo comprovou se tratar de mais um engodo institucional, uma vez que o sistema nunca chegou a ser implantado, como também não houve o menor interesse das administrações subsequentes em seguir com o projeto, o que fez com que o sistema seguisse inoperante após anos de inatividade.
Até hoje não se sabe o que ocorreu com os recursos públicos destinados ao projeto, enquanto os instrumentos ora adquiridos viraram trambolhos ultrapassados, com as câmeras instaladas nas saídas da cidade servindo apenas de um vergonhoso “enfeite” a denunciar a incompetência e o descaso, cujas ações rapinadoras de recursos públicos se espalham por outros setores importantes.
Ficamos com uma sociedade penalizada porque um sistema de videomonitoramento foi engolido pelo buraco dos desmandos. Hoje o Estado vive com uma população assombrada por causa das ameaças a escolas e, há um certo tempo, acossada pela violência urbana, cuja realidade da criminalidade é resultado de um governo que não consegue se organizar, enquanto o crime se estruturou e se organizou, aproveitando os vácuos deixados pelos poderes constituídos.
*Colunista
** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV