Jessé Souza

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Os históricos apagões e a distopia vivida pela população roraimense

Jessé Souza*

Enquanto os políticos entraram numa guerra declarada pela vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o Estado de Roraima vive dias de muita turbulência devido a antigos problemas nunca resolvidos. O caos não se resume tão somente ao novo blecaute no fornecimento de energia elétrica, no fim de semana, que por sua vez provocou outros apagões em cadeia: o da internet e do abastecimento de água.

Na Educação, enquanto o governo anuncia ações para acalmar a população assustada com ameaças de ataque a escolas, outros antigos apagões no sistema educacional prosseguem, a exemplo do caso do transporte escolar, onde são mantidos veículos sucateados, sem qualquer garantia de segurança às crianças e adolescentes, os quais não são fiscalizados, colocando em risco a vida dos alunos e dos motoristas.

O caso mais flagrante disso foi o acidente que ocorreu na manhã de ontem com o micro-ônibus que atende a Comunidade Sabiá, na região de Surumu, no Município de Pacaraima. O veículo já havia apresentado problemas na direção, conforme relatam os pais, o que foi ignorado até ocorrer o acidente, quando algumas crianças ficaram feridas com tombamento do micro-ônibus provavelmente porque quebrou a direção.

As escolas públicas estão sob outros ataques há muito tempo: escolas que nunca mais reabriram as portas para aulas presenciais; falta de professores de Matemática, Física e Química; prédios sem condições de funcionar; falta de materiais didáticos bem como coisa simples, como tinta e papel para imprimir atividades, além de outros que se acumulam há muito tempo.

Nesse ínterim, em que o inverno começou a enviar as primeiras chuvas, outros apagões se repetem em um ciclo interminável. A começar pela maternidade pública, que funciona improvisadamente debaixo de lona, onde as primeiras chuvas do ano voltaram a provocar infiltrações pelo teto. A alegação é a de que uma calha entupiu, o que mostra a falta de manutenção básica. Aliás, ontem uma médica sofreu um acidente ao escorregar no piso molhado.

Por sua vez, as estradas voltaram com o apagão de sempre, com atoleiros aonde a manutenção nunca chegou, ou só chegou somente agora, perto do início do período de chuvas. Apenas um exemplo: a estrada de acesso à Vila Trairão, no Município do Amajari, onde vários políticos e o próprio governador foram lá prometer o asfaltamento, mas que já se transformou em um imenso atoleiro na primeira chuva no fim de semana. Um grande tormento para a população e os pequenos produtores. O cenário se repete em outras regiões.

O apagão na segurança é de longas datas também. Enquanto viaturas da Polícia Militar ficam de prontidão na frente das escolas, outros setores estão desprotegidos. O problema pôde ser sentido no fim de semana, quando uma paciente venezuelana transtornada pela cachaça agrediu servidores e quebrou equipamentos no Pronto Atendimento Cosme e Silva, no bairro Pintolândia. Apesar da superlotação e do complexo atendimento ao público naquela unidade de saúde, nunca o governo disponibilizou vigilância ou policiais para garantir a ordem.

A propósito, a imigração desordenada só se amplia, sob o silêncio de todos. Venezuelanos sem-teto começaram a dormir dentro da Rodoviária Internacional de Boa Vista, fugindo das chuvas, voltando a repetir cenas de um passado não distante. O cenário mostra que o problema da imigração pode novamente fugir do controle, conforme vem alertando esta Coluna há algum tempo.

Enfim, outros apagões acompanham a vida do roraimense desde há muito tempo, mas as autoridades sempre dão um jeito de engabelar a população. E, enquanto tudo isso ocorre, o Governo do Estado promoveu uma típica solenidade denn cidade de interior para anunciar, pela segunda vez nesta administração, a reforma geral do Parque Anauá. E com direito a uma atleta olímpica para enfeitar o evento, como se fosse uma típica festa pré-eleitoral. Só que, agora, o valor da obra será de R$139 milhões! E tudo depois de mais de quatro anos com obras paralisadas e estrutura abandonada.

Para completar o quadro de distopia que vivemos, ainda há a informação de que o linhão de Guri continua emperrado, inclusive com rumores de que a empresa responsável pela obra teria desistido. É uma situação que merece imediata resposta das autoridades para que a opinião pública tenha conhecimento do que realmente está ocorrendo. O momento é oportuno, uma vez que técnicos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estão em Roraima para averiguar as causas do apagão do fim de semana.

Ou vão continuar com a política de ocultar os fatos como forma de empurrar os problemas com a barriga, como sempre fizeram?!

*Colunista

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV