Um jogo de cena dos vereadores para dar uma falsa satisfação à sociedade
Jessé Souza*
Na ânsia de mostrar serviço diante do momento de pânico e apreensão por causa de ameaças a escolas, os vereadores de Boa Vista promulgaram a lei que cria um Proed municipal, que é o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência. O projeto de lei foi vetado pelo prefeito de Boa Vista, Arthur Henrique, mas a Câmara decidiu derrubar o veto e promulgar a lei.
Não precisa ser nenhum estudioso no assunto para entender que a abordagem sobre prevenção às drogas com a infância não pode ser a mesma adotada com jovens e adolescentes. A prevenção pode, sim, ser adotada desde a infância, mas com outra abordagem que não aquela de levar um policial militar para dentro de sala de aula para falar sobre drogas, seus riscos e outros temas da vida em sociedade visando à prevenção.
É um absurdo imensurável a decisão dos vereadores de Boa Vista acharem que um Proerd com crianças pode funcionar como algo extraordinário. Absolutamente não! Não é a presença de militar fardado, que irá conceder um certificado de conclusão após quatro meses de palestras sobre a vida e a importância de se manter longe das drogas e da violência, que irá transformar a realidade das crianças, o que a sociedade tanto almeja.
É preciso buscar exemplos de onde as ações deram certo. Nos Estados Unidos (EUA), existem programas para crianças focados em habilidades de vida cujos resultados são acompanhados cientificamente há 30 anos, que tem a finalidade de reduzir tudo aquilo que é risco e aumentar aquilo que protege desde a primeira infância. Detalhe: são ações as quais não se fala de drogas, mas são consideradas como preventivo de seu uso.
Não apenas isso. É necessário que a escola esteja atenta aos pais também, para que esse trabalho preventivo chegue a pais e mães que precisam de alguma intervenção especializada, como aqueles imprevisíveis, com algum histórico de violência ou agressividade, com vício em drogas ou identificados com problemas de saúde mental. É assim que deu certo há 30 anos nos EUA.
Mas uma ação assim dá muito trabalho, exige a criação de um programa amplo e que vai custar mais recursos no orçamento municipal, além de parcerias com a iniciativa privada. É por isso que se busca algo mais simples apenas para mostrar algum trabalho. Achar que policiais fardados dentro de sala de aula podem resolver é apenas uma enganação governamental. É preciso que especialistas estejam dentro das escolas em um trabalho amplo e sério, envolvendo tudo mundo.
Então, a finalidade da lei sancionada pelos vereadores é muito óbvia: apresentar algo só para dar uma satisfação à opinião pública, esperando que o Município ainda busque uma parceria com a Polícia Militar, que mal consegue manter o policiamento ostensivo e que ainda recebeu a atribuição de vigiar as escolas estaduais e privadas. Não tem como. É só mais uma engabelação eleitoreira.
Ainda que a lei municipal seja mantida, ela já nasceu morta, pois jamais a PM irá abraçar mais esse desafio se não consegue enfrentar a violência em todo o Estado, com destaque nos municípios do interior, largados à própria sorte, além de já ter a obrigação de servir de segurança de políticos e autoridades. É um delírio momentâneo dos vereadores, que com certeza será revisto à luz da legislação. Nem a Guarda Municipal está preparada para assumir uma responsabilidade dessa magnitude. É tudo jogo de cena.
*Colunista