Vídeo de um grupo despreparado para apreciar as belezas de Tepequém
Jessé Souza*
Um vídeo que começou a circular no fim de semana passado, e que somente agora está chegando ao conhecimento da população, mostra um grupo de pessoas ilhado em um trecho da trilha do Platô da Serra do Tepequém, um dos roteiros mais requisitados. A chuva torrencial caiu na madrugada de sábado para domingo, no fim de semana passado, provocando uma enxurrada no igarapé que atravessa a trilha principal daquele atrativo turístico.
É necessário destacar alguns pontos importantes para que os fatos sejam esclarecidos, para a segurança de turistas e aventureiros, bem como para o bem do turismo no Tepequém, o único ponto turístico consolidado de Roraima, atualmente abandonado pelas autoridades que deveriam dar o apoio necessário para desenvolver aquela região.
O principal é a necessidade de se contratar um condutor local, o qual está capacitado para conduzir os turistas com toda segurança necessária, o que não foi o caso daquele grupo, que provavelmente não contratou um profissional local. Algumas empresas que organizam excursão também costumam não contratar um condutor local, achando que ter um profissional da empresa de Boa Vista ou de Manaus (AM) seria o suficiente.
A lição mais básica é que um condutor local capacitado poderia prever muito bem que a madrugada seria de chuva. E não se trata de olhar as nuvens escuras ou de sentir aquela brisa fria que vem de Leste a Oeste antes de um toró. Bastava consultar um aplicativo climático, serviço este que está cada vez mais preciso, que logo se saberia da chuva torrencial que cairia naquela madrugada. Coisa que ninguém daquele grupo fez, pois não teria organizado a trilha naquela madrugada para ver o raiar do sol.
Ainda que se soubesse que cairia a chuva, mas o grupo quisesse ir assim mesmo (o que não é recomendado), um condutor local saberia também que uma enxurrada naquela área logo passa. Bastava esperar por um tempo, sem precisar de desespero nem chamar o Corpo de Bombeiros. Quem mora na região sabe que, após qualquer chuva, logo tudo volta à normalidade, pois o escoamento não demora muito, especialmente naquele igarapé que desce do Platô.
Aliás, por toda a serra, o dia todo pode ser de uma chuva intensa, mas no outro dia o cenário volta à normalidade, com as cachoeiras um pouco mais encrespadas, com um volume maior, mas sem representar riscos para quem seguir as orientações necessárias para não sofrer um acidente, como pedras lisas e pontos alagados ou com uma correnteza um pouco mais forte para crianças, idosos ou pessoas com problema de mobilidade.
Quando aquele vídeo, divulgado por um grupo visivelmente despreparado, começou a viralizar, as cachoeiras da Serra do Tepequém já estavam tranquilas, mais volumosas e prazerosas para serem curtidas pelos turistas. Inclusive, outras chuvas fortes já caíram de lá para cá, mas isso não inviabiliza os passeios nem ameaça a segurança das pessoas que estão acompanhadas de condutores locais ou bem orientadas.
Vídeos irresponsáveis, de pessoas despreparadas, apenas criam um pânico desnecessário, assustando os turistas e prejudicando a economia local, não só para os empreendedores, mas para toda comunidade que vive exclusivamente das atividades turísticas. Se tais pessoas quisessem realmente ajudar, contratariam um condutor local, pois não estariam garantindo apenas um passeio tranquilo e seguro, mas também gerariam renda para uma pequena vila que clama por investimento no turismo por parte das autoridades.
Em tempo, o Instituto Federal de Roraima está formando a primeira turma de Técnico em Guia de Turismo, o que irá garantir mais um fortalecimento da atividade turística, colocando no mercado de trabalho pessoas formadas e preparadas para recepcionar e guiar os turistas, a partir do próximo ano. Até lá, as autoridades poderiam estar agindo na capacitação de mais condutores locais, na fiscalização e na conscientização.
Hoje, por falta de fiscalização e conscientização, qualquer oportunista se coloca como condutor e dá naquilo que foi visto no vídeo: a força da natureza agindo, em um espetáculo só dela, e gente despreparada por não saber lidar diante daquela situação. Poderia ter ocorrido uma tragédia, de fato, mas poderia ter sido só mais um passeio tranquilo para presenciar mais uma cena da natureza e seu poderio.
A Serra do Tepequém também é um espetáculo da força da natureza a ser observado. Basta que o turista saiba buscar o profissional certo e as informações necessárias. Mas o importante a saber é que pode chover hoje à noite, mas amanhã pela manhã tudo já estará dentro da normalidade, com as cachoeiras mais encorpadas e as serras lavadas pelo poder supremo da natureza.
E o melhor: depois que chove, surgem novas paisagens temporárias, com água abundante e cristalina, como é o caso da Cachoeira do Cipó, onde jacuzzis naturais, com água em tom esverdeado, se formam ao longo do igarapé depois das chuvas e durante todo o inverno. Joga no Google que as imagens irão surgir…
*Colunista