Jessé Souza

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Negar fatos e desviar a atenção da opinião pública é uma prática antiga

Jessé Souza*

Não há o que questionar a respeito do que está ocorrendo nos garimpos ilegais dentro da Terra Indígena Yanomami. É de conhecimento público e notório que o crime organizado tem o domínio de frentes de garimpos que resistem às ações de retiradas e que disputa o controle de áreas que não se submeterem às leis dos criminosos dentro da floresta, cujos rios são os meios de acesso.

Mas autoridades locais tentam jogar penumbra sobre a realidade a fim de tentar confundir a opinião pública. Sem ter novos argumentos para defender o indefensável, um senador nem disfarça mais e usa como estratégia fatos do passado, tentando negar a existência da chacina de Haximu, que ocorreu em 1993, inclusive com as primeiras condenações por genocídio começando a ocorrer a partir de 1997.

É uma tática tão antiga quanto contumaz engabelar a opinião pública não só quando se trata da questão indígena ou ambiental, mas em tudo aquilo que os políticos querem esconder ou disfarçar. Senão, vejamos. Enquanto a BR-174 precisa de todos esforços políticos para que seja restaurada, tem uma deputada indo ao Ministério dos Transportes cobrar o asfaltamento de uma estrada dentro da Guiana.

Na legislatura passada, um empresário do ramo de transporte que dividiu o mandato com outro empresário na Câmara Federal (sim, tivemos um mandato compartilhado meio a meio na surdina), em vez de brigar pela mesma BR-174, ele não se cansava de reivindicar o asfaltamento na BR-319, entre Amazonas e Rondônia, enquanto a principal rodovia roraimense definhava, chegando ao estado calamitoso atual.

Assim também como tivemos dois senadores indo ao Ministério do Ambiente pedir pela liberação de um grande carregamento de madeiras ilegais apreendido pela Polícia Federal no Estado do Amazonas, enquanto o Estado de Roraima precisava de parlamentares brigando pelo linhão de Tucuruí, por exemplo, a fim de garantir energia confiável para a população roraimense.

Não se pode esquecer também que um político passou os últimos anos articulando a nomeação do filho para um cargo vitalício no Tribunal de Contas, da mesma forma que ele, os demais 24 deputados, a oposição que está fora do poder e até o governador e sua esposa estão em confronto aberto na briga pela vaga vitalícia no Tribunal de Contas do Estado (TCE).

São exemplos concretos, com repercussão na imprensa local e em veículos de circulação nacional, fatos esses que não podem ser negados. Basta jogar no Google para saber quem são os personagens. São políticos atuando em favor de sues próprios interesses ou de terceiros, os quais se utilizam de estratégias midiáticas para desviar a atenção da opinião pública.

O caso do garimpo ilegal é só mais um momento de briga por interesses inconfessáveis (ou não), apesar da atuação incontestável do crime organizado, que tem atacado não apenas os indígenas, mas também agentes das forças federais destacados para atuarem na repressão dentro da Terra Yanomami nos últimos dois anos.  E querem, mais uma vez, negar os fatos e engabelar a opinião pública.

Enquanto tudo isso ocorre, Boa Vista se encaminha para um cenário de caos com o descontrole da imigração desordenada de venezuelanos, os quais já se apropriaram dos espaços no entorno e dentro da Rodoviária Internacional de Boa Vista. E ninguém faz nada, enquanto essas mesmas autoridades lutam por seus interesses particulares e de seus grupos.

*Colunista