Jessé Souza

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Prioridades ignoradas e o povo-gado ruminando de cabeça baixa para o matadouro

Jessé Souza*

Conforme esta Coluna especulou no artigo de ontem, coube ao presidente da Assembleia Legislativa, Soldado Sampaio, como governador em exercício, dar a canetada final para nomear a primeira-dama Simone Denarium como conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Uma explícita manobra para fugir de questionamentos judiciais a fim de que não se configurasse uma provável ilegalidade, caso o governador Antonio Denarium nomeasse a própria esposa para um cargo responsável por fiscalizar seus atos administrativos e apreciar suas contas.

Que comece a batalha jurídica! No entanto, que as autoridades passem a se ocupar imediatamente com as questões que afligem diretamente a população roraimense, e não apenas com seus projetos de poder e de seus grupismos políticos. E que mostrem o mesmo afinco e interesse desempenhados na disputa pela indicação e posterior nomeação da primeira-dama como conselheira do TCE.

Porém, os movimentos políticos indicam que não há sintonia das autoridades em geral com aqueles que precisam das ações governamentais para que os problemas sejam atacados e resolvidos. O exemplo foi a própria viagem do governador para a Guiana. Ao deixar o presidente da Assembleia responsável por nomear a primeira-dama para o TCE, o governador foi tratar do asfaltamento de uma estrada na Guiana que beneficia ele próprio, como produtor de soja, e outros grandes produtores do agronegócio. Até um senador reapareceu enaltecendo esse ato do asfalto no exterior como um grande feito.

Enquanto isso, em Roraima, grupos de WhatsApp e redes sociais são inundados diariamente com vídeos de rodovias e vicinais alagadas, no atoleiro ou com pontes destruídas pela força das chuvas. Ou seja, enquanto o governador emplaca a esposa no TCE e viaja para a Guiana para tratar do interesse dos grandes, os pequenos produtores comem o pão que o diabo amassou, sem estrutura necessária para escoar sua produção, trabalhadores esses que verdadeiramente põem comida na mesa das famílias nas cidades.

Para não esquecer de outro grande problema, que vem sendo ignorado, a maternidade segue funcionando debaixo de tendas, onde continuam morrendo bebês corriqueiramente, conforme vem sendo comentado por esta Coluna desde o início do ano. O governo gostou tanto de improvisar com lonas, que já se especula abrir salas de aula debaixo de tendas, uma vez que a educação foi abandonada nos últimos quatro anos, sem construção de novas escolas ou ampliação das que já existem, especialmente no interior e nas comunidades indígenas, assunto este que vem sendo tratado há dois anos por aqui.

Não menos importante é a situação do abastecimento de água no Estado, cujo serviço prestado pela Companhia de Água e Esgoto de Roraima (Caer) é deficitário em todos os municípios do interior, sem exceção, cujos problemas podem ser facilmente observados na Capital, com constantes interrupções para manutenção de um sistema ultrapassado, sem os investimentos necessários. Uma estatal que acomoda nomeações políticas, mas que não consegue ser eficiente na prestação de um serviço essencial à população.

E assim seguem outros problemas insolúveis que requerem ações de políticos comprometidos com o Estado, como a questão energética, a qualidade da internet e a regularização fundiária (isso só para lembrar os históricos entraves), enquanto nossas autoridades se concentram em brigar por cargos, indicações políticas e pelos interesses dos grandes. O povo que se contente em reclamar em rede social e, em tempo de eleição, se conformar em seguir para as urnas de cabeça baixa, como se fosse gado ruminando em direção ao matadouro…  

*Colunista

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV