Pontes caindo, Deus enviando chuva e a artimanha de nossas autoridades
Jessé Souza*
A cena se repete a cada inverno, a ponto de as pessoas terem normalizado pontes da madeira desabando e o leito da pista das rodovias engolido pela cheia dos rios como se isso fosse apenas culpa da natureza devido ao inverno rigoroso. No caso de vilarejos alagados durante o temporal até pode ser creditado na conta do poder da natureza, mas não no caso de pontes e estradas.
O exemplo pode ser visto a partir do acidente que ocorreu com um caminhão carregado com materiais de construção, que caiu no igarapé quando uma ponte de madeira desabou, no Município de Normandia, no domingo. O episódio poderia ter terminado com perdas de vida. No entanto, foram apenas danos materiais com um grande prejuízo para o proprietário do veículo e da carga.
Responsável pela manutenção daquela ponte, o governo já sabia que poderia ocorrer um desabamento, mas nada fez e sequer se deu ao trabsalho de colocar um alerta no local. E o governo tenta se livrar de qualquer culpa, tentando responsabilizar o condutor do caminhão sob a alegação de que todos foram avisados do perigo. Se duvidar, vai jogar na conta da natureza também.
Mas a verdade é que o governo não tem uma equipe permanente para monitoramento e manutenção de estradas e pontes, com a missão de identificar os riscos iminentes e agir imediatamente para corrigir os problemas, a fim de evitar o que ocorreu no fim de semana em Normandia. Nem os prefeitos dessas localidades se importam em cobrar e integrar essas equipes que possam atuar de forma permanente.
Pior: montanhas de recursos foram destinadas no ano passado exatamente para que 12 prefeituras do interior agissem imediatamente, porém, nada mudou de lá até hoje. Além disso, as obras de recuperação de estradas não contemplam a elevação do nível da pista para acabar com esses trechos e pontes que ficam inundados a cada inverno, sob risco de as enxurradas derrubarem pontes, romperem bueiros e arrastarem o leito de estradas e vicinais.
E assim ocorre anualmente em alguns trechos da BR-174, que ficam tomados pela água quando os rios enchem. Apesar de ser recorrente, as autoridades não agem para eliminar o problema definitivamente. O mesmo ocorre com as pontes, as quais não passam por manutenções periódicas, a ponto de o governo esperar que o pior ocorra para tomar uma atitude, geralmente sob a rubrica de obra emergencial, que significa contratação sem licitação e geralmente com o serviço direcionado para certas empreiteiras de políticos e/ou de seus familiares.
E assim nossas autoridades tratam a população, engabelando a opinião pública e se esquivando de qualquer culpa, como se o caos provocado nas estradas e vicinais, a cada inverno, fosse culpa da natureza ou do poder de Deus que envia o inverno rigoroso. E o povo otário cai direitinho na artimanha, porque as eleições sempre ocorrem no verão, quando o dinheiro da boca de urna funciona como lavagem cerebral ou uma amnésia de caráter.
*Colunista