Política da cesta básica e as granadas deixadas no bolso da população
Jessé Souza*
Enquanto faltam políticas públicas para enfrentar os principais problemas que afligem a população roraimense, a única estratégia do governo estadual que tem sido intensificada é a de distribuir cestas básicas nos bairros de Boa Vista e principalmente nos municípios do interior. A Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), por exemplo, concentra toda sua logística e funcionários de vários setores apenas para colocar a população na fila da cesta básica.
Até servidores de outras secretarias são escalados para entregar as cestas. Enquanto isso, faltam projetos e ações para enfrentar a gravidez na adolescência, prevenção ao uso de drogas, que é a porta para o avanço da criminalidade, e a ociosidade de crianças e adolescentes, bem como a formação profissional de jovens. Tais políticas públicas são imprescindíveis neste momento delicado que vivemos com a imigração desordenada, criminalidade, informalidade alta no mercado de trabalho e outras mazelas.
O governo que aí está só fala em geração de emprego e investimento em agronegócio como fórmula de desenvolvimento econômico, enquanto na verdade só tem colocado em prática a política de distribuição do peixe em vez de ensinar a pescar. Inclusive, literalmente voltou a colocar a população mais pobre na fila do peixe e segue distribuindo cestas básicas a um maior número de pessoas desde as eleições municipais passadas, conforme esta Coluna vem comentando há um certo tempo.
Da mesma forma que ignora uma política para prevenção às drogas, cuja falência das políticas públicas nessa área pode ser constatada a partir dos viciados que perambulam no Centro de Boa Vista, especialmente no entorno da praça do Mirante, onde o tráfico ocorre abertamente e os viciados se tornaram zumbis a qualquer hora do dia e da noite. Nem as três igrejas ali concentradas têm preocupação em desenvolver qualquer ação social.
A crítica situação das drogas como porta da criminalidade pode ser sentida nas principais matérias divulgadas ontem, na crônica policial: a prisão de uma mulher com 10kg de droga em um ônibus interestadual e mais 350Kg apreendidos em uma fazendo no Sul de Roraima, cujo carregamento da droga estava sendo transportava em um avião que pousou em uma pista clandestina.
Essa apreensão de skunk, vale ressaltar, se tornou a maior já registrada em Roraima, conforme a Polícia Civil, mostrando o nível de preocupação que as autoridades deveriam ter não só no combate ao crime, mas em políticas públicas para evitar que jovens entrem para o vício cada vez mais cedo, um flagrante problema que se amplia.
O tráfico de droga ainda se aproveita da imigração desordenada e está ligado ao tráfico de armas de fogo, ao crime do garimpo ilegal e exploração sexual de meninas adolescentes, cujas ações são controladas pelo crime organizado, que por sua vez está associado a uma fação venezuelana, conforme também já foi comentado neste espaço em outras ocasiões.
Enquanto tudo isso ocorre ao mesmo tempo, o que se vê são autoridades alheias a tais questões, com um governo que se preocupa exaustivamente com cestas básicas porque os políticos já sabem que isso é o que dá voto a cada ano eleitoral. E as granadas foram colocadas no bolso da população, as quais não tardarão a explodir lá na frente. E não tardará isso acontecer…
*Colunista
** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV